terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Folha OnLine
17/02/2009
LUCAS NEVES
da Folha de S.Paulo
Ao fim da projeção, enquanto sobem os créditos, aplausos efusivos ecoam das caixas de som: é o público do Metropolitan Opera, de Nova York, que saúda elenco e músicos da ópera "Orfeu e Eurídice", de Christoph Gluck (1714-1787).
Divulgação
Cena de "Orfeu e Eurídice", exibida no domingo (15) em cinemas de sete cidades brasileiras

Em uma das três salas de cinema paulistanas que exibem o registro do espetáculo, a psicóloga aposentada Elizabeth Fadel, 60, é uma das poucas a imitar o cumprimento da plateia americana. "Fiquei emocionada. Acho um absurdo a gente não aplaudir. As pessoas ficam inibidas", diz.
Anteontem, além de São Paulo, outras seis cidades brasileiras assistiram na tela grande à produção da tradicional casa de ópera nova-iorquina. Com exceção de Santos, todas terão repeteco hoje. No mundo, as récitas do Metropolitan estão atualmente em cartaz nos cinemas de 30 países --em boa parte deles, em tempo real.
Nos dois locais de exibição que a reportagem visitou no domingo, na capital paulista, o público se assemelhava, nos trajes e na faixa etária, àquele habitualmente visto nas óperas do Teatro Municipal. Grupos de senhoras e casais de idosos respondiam pelo grosso da audiência --no Cine Bombril, a taxa de ocupação foi de 88%, e, no Unibanco Arteplex, de 82%.
Uma das exceções era a estudante Anaïs Fernandes, 16, que assistiu à projeção com os pais, Marcos Luiz, 52, e Bruna Pauletti, 56, e costuma acompanhá-los nas récitas do Municipal. "Uma das vantagens de estar aqui é a possibilidade de observar cantores que não vemos sempre", afirmou.
"A desvantagem é que aqui você não interage com a montagem, não influencia o desempenho dos artistas. Mas vamos ver um produto mais bem acabado", emendou o pai.Marcos Luiz também apontou o conforto como um ganho da "cine-ópera" em relação ao espetáculo ao vivo. Mas que não se incluam nessa ideia de comodidade combos de pipoca e refresco. "Espero que ninguém faça isso", repudiou ele, sem perceber que um senhor sentado na fila à frente empunhava um balde da iguaria.
Atrasos e celulares
Para a aposentada Geid Tremante, 69, que esteve na sessão do Cine Bombril, piores do que os gulosos eram os retardatários e ansiosos. "Teve gente entrando depois das 17h [horário de início da exibição] e que ficava acendendo a luz do celular para ver mensagem. Se não tem tempo para ver ópera, fique em casa!", disse.
Já tendo conferido a programação do Metropolitan in loco, ela disse que assistir à ópera no cinema "corresponde a 80% da emoção de acompanhar ao vivo". "Mas lá [em NY] você nem sempre encontra ingresso."
A recepção positiva à projeção foi unânime entre os espectadores ouvidos pela Folha. O preço do ingresso (entre R$ 25 e R$ 30, dependendo da sala) não teve a mesma acolhida. "Poderia ser mais barato, já que é uma maneira de chamar público para a ópera, apresentar um gênero que muita gente acha chato por desconhecer", disse a professora Suzana Smith, 60.
A psicóloga Edna Fernandes, 48, questionou essa possibilidade de formação de plateia. "Acho que quem esteve hoje aqui é quem já vai costumeiramente à ópera."
E quem é habitué das récitas do Municipal é o casal de professores aposentados Erella Opher, 72, e Reuven Opher, 77. "Ao vivo, você sente que é parte da emoção. Em um cinema, nem com cem alto-falantes é a mesma coisa. Mas, já que não podemos ter cantores do primeiro escalão no Municipal, vale a pena ver os do Metropolitan, mesmo que numa tela", conformava-se Reuven.
"Lucia di Lammermoor" (em 1º/3) e "Madame Butterfly" (em 22/3) serão as próximas óperas a ganhar a telona.
ORFEU E EURÍDICE
Quando: reapresentação hoje, às 19h30, no Cine Bombril (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3285-3696), e às 20h, no Unibanco Arteplex (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/ 3472-2365)
Quanto: R$ 25 (Cine Bombril) e R$ 30 (Unibanco Arteplex)
Classificação: livre

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