Elisa Tecles - Correio Braziliense
24/02/2009
São 48 anos de carnaval, 28 vitórias e oito vice-campeonatos. A maior campeã do carnaval brasiliense entra hoje à noite na avenida do Ceilambódromo em busca de mais um título. A Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc) apresenta o enredo O gavião abre as asas para Joãosinho Trinta, uma homenagem ao carnavalesco maranhense que marcou o carnaval carioca e hoje vive em Brasília.
A agremiação recebeu do governo do Distrito Federal o título de Patrimônio Cultural e Imaterial. Apenas cinco manifestações locais contam com o reconhecimento: Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o Boi de Seu Teodoro, o Clube do Choro, o Ideário Pedagógico de Anísio Teixeira e a Via-Sacra de Planaltina.
A história de Joãosinho Trinta e suas conquistas dentro e fora da Marquês de Sapucaí serão contadas por 900 integrantes da escola distribuídos em 18 alas, três carros e um tripé. A ideia surgiu na quarta-feira de cinzas de 2008.
“Começamos a pensar no carnaval do outro ano assim que acaba o desfile. Em abril, fizemos a parte de pesquisa, enredo e croquis das fantasias e dos carros” explicou o presidente, Moacyr de Oliveira. O desfile do Grupo Especial começa às 20h no Ceilambódromo. Além da Aruc, cinco agremiações se apresentam na avenida esta noite.A Aruc deu início à produção dos carros e fantasias no início do ano. Parte das roupas foi confeccionada no Rio de Janeiro. O barracão da escola, no Cruzeiro, abrigou os carros alegóricos. Cerca de 100 pessoas trabalharam para fazer o desfile virar realidade. Boa parte dos foliões que usarão as fantasias mora no Cruzeiro e tem origem carioca. Além deles, há legítimos brasilienses filhos e netos de amantes da Portela, escola madrinha da Aruc, e outros nascidos na capital que nada têm a ver com a festa no Rio.
“A Aruc é uma grande família. Estamos na quarta geração”, comentou o presidente.
Os 120 músicos da bateria treinaram o ano todo para a noite de hoje. No comando dos ritmistas, o segundo diretor, Flávio Vitorino, 44 anos, conta que a bateria cruzeirense tem todo tipo de gente. “Acabou aquele estigma de sambista, chamamos todos os interessados em aprender a tocar”, disse. Flávio começou a tocar cuíca depois que o pai, um dos fundadores da escola, morreu, em 2001.
Estrelas da festa
Escola de samba que se preze é representada por uma bela rainha. A musa vem à frente da bateria, animando a plateia. A escolhida da Aruc para ocupar o posto desde 2008 é a estudante de direito Kerlen Oliveira, 34 anos, casada e mãe de dois filhos. Ela se orgulha de ter virado inspiração para as passistas que desejam alcançar o reinado. Carioca e portelense de coração, Kerlen logo se identificou com a Aruc e sempre assistia aos desfiles da escola. Na madrugada de hoje, ela desfilaria em um dos carros da Portela, no Rio de Janeiro. Em seguida, pegaria um avião para chegar a tempo de ir ao Ceilambódromo. E qual o segredo para ganhar a coroa? “Ser simpática, ter contato com o público e intimidade com os componentes da bateria”, revelou a rainha.
O símbolo da escola ficará nas mãos da funcionária pública Crystianne Lustosa, 27, durante os 50 minutos de festa. A segunda porta-bandeira carregará o mastro durante todo o desfile, ao lado do mestre-sala. Crystianne estreou na avenida aos 7 anos vestida de palhaço na ala das crianças da Aruc. O posto de porta-bandeira vem de família: uma tia o ocupava antes dela. Neste ano, a jovem entra na avenida com o professor Evaldo Cognasc, 38, carioca que começou no carnaval como passista mirim. “O mestre-sala é gracioso, levanta a galera. Ele corteja a porta-bandeira, como se quisesse conquistá-la e é o guardião da bandeira.”
Prêmios
Uma visita à sala de troféus e fotografias do barracão da Aruc revela o passado da agremiação. Dos 42 desfiles de que participou, só não levou medalha de ouro ou prata em seis apresentações. Até hoje, alguns vice-campeonatos estão entalados na garganta. O único troféu de segundo lugar que ganhou espaço na sala das vitórias é o do ano passado, quando a Aruc perdeu para a Águia Imperial de Ceilândia.
“Para mim, foi o melhor carnaval da história da Aruc. Em alguns anos merecíamos perder, mas esse foi inexplicável”, lamentou Moacyr. Em 47 anos de história, a Aruc deixou de desfilar em cinco vezes — em 1981, 1994, 1995, 1996 e 2003. Em 1996, a direção não concordou com as regras da festa e, nos outros anos, não houve desfile oficial na cidade.Uma das derrotas mais emblemáticas da Aruc é a de 1979, ano em que o enredo escolhido foi Iemanjá, um poema de amor. Um mistério ainda não esclarecido deu nota zero à escola no quesito porta-bandeira e mestre-sala. “A bandeira sumiu, ninguém sabe o que aconteceu. A porta-bandeira entrou na avenida segurando uma pluma”, lembrou o presidente da escola. Por um ponto, a Aruc perdeu o título de campeã daquele ano para a Acadêmicos da Asa Norte.
Memória
Cariocas saudosos
A Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro surgiu em 1961, idealizada por um grupo de cariocas que vieram transferidos da antiga capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, e trouxeram na bagagem muita saudade do samba. Eles haviam se instalado no Bairro do Gavião, rebatizado de Cruzeiro em 1960. O nome do local inspirou a escolha da ave símbolo da Aruc. Como a maioria dos fundadores era fiel à Portela, escola de samba do Rio de Janeiro, eles determinaram que as cores oficiais da agremiação seriam azul e branco. O primeiro desfile ocorreu em 1962, com o enredo 21 de abril — exaltação a Brasília. O título de campeã veio em 1965, quando a escola contou a história da imprensa nacional. Uma das conquistas inesquecíveis da agremiação foi o título de 1993.
Naquele ano, a Aruc recebeu o ouro pela oitava vez consecutiva com o tema Portela — de Paulo a Paulinho.
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