quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

No cinquentenário, Cesar Camargo Mariano recria sua obra

Marco Antonio Barbosa,
JB Online
25/02/2009


RIO - Por favor, que ninguém aborde César Camargo Mariano com congratulações por seus 50 anos de carreira, completados neste 2009. O arranjador, produtor, compositor e pianista fica brabo.
– Estou “fazendo” 50 anos de carreira, mas não estou “comemorando” 50 anos de carreira. Entendeu a diferença? – encrenca César.
Mas a zanga é fingida. Logo vira orgulho ao citar o marco inicial de sua trajetória: a carteira da Ordem dos Músicos do Brasil (“Número 873”, cita de cor), emitida pouco depois do aniversário de 15 anos. Radicado em Nova York desde meados dos anos 90, o músico (que foi uma das atrações principais do 10º Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga, realizado durante o Carnaval na cidade do interior do Ceará, a 110 quilômetros da capital Fortaleza) prepara a realização de um sonho antigo para marcar o primeiro cinquentenário de vida profissional.
– Desejo muito recriar minha obra em formato para piano e orquestra sinfônica. É um sonho de criança – anuncia o músico, que toca piano desde os 13 anos (completa 66 em setembro) e foi criado à base de eruditos e jazz. – E vou dar a partida nessa ideia em março; toco no Auditório Ibirapuera (São Paulo) nos dias 27 e 28 acompanhado da Jazz Sinfônica.
No repertório, composições próprias de César, rearranjadas em forma de suítes sinfônicas, temas alheios que ficaram famosos em vozes como a de Elis Regina (com arranjos originais do músico) e clássicos brasileiros como sucessos da bossa nova e temas de Pixinguinha. O formato, claro, não chega a ser uma novidade para o músico.
– Já trabalhei com orquestras ao produzir trilhas sonoras de filmes – conta, lembrando de scores originais que fez para longas como Eu te amo (Arnaldo Jabor, 1980) e Além da paixão (Bruno Barreto, 1984). – Mas vai ser um desafio, ainda assim. Vou tocar piano e preparar todos os arranjos.
Por mais empolgado que esteja com a chance de se juntar a uma sinfônica, César escolheu uma paixão diametralmente oposta para relembrar as cinco décadas de carreira. O músico tem se apresentado em formato de trio, acompanhado pelo filho Marcelo Mariano (baixo) e Jurim Moreira (bateria). Foi com essa formação que ele tocou em Guaramiranga releituras intimistas de músicas como I can't help it (Stevie Wonder), Eu só posso assim (Pingarilho) e Olhou pra mim (Johnny Alf).
O trio fez diversos shows no Brasil em 2008, mas por enquanto não tem mais datas agendadas. Tocar com apenas outros dois músicos, com o formato clássico dos trios de jazz e bossa, tem servido como ponte entre os dois extremos da carreira do veterano.
– O trabalho com o trio me remete aos anos 60. As casas noturnas eram pequenas, não havia espaço para grandes grupos. Era uma delícia – relembra César, que passou por duas formações cruciais da época: o Sambalanço Trio e o Som 3. – Estava em casa conversando sobre o início da minha carreira e tive saudade dos trios. É uma formação muito delicada, que depende de entrosamento e amizade entre os integrantes. Funcionamos como se fôssemos uma pessoa só.
Os trios ficaram para trás a medida que o músico passou a trabalhar como arranjador para nomes como Wilson Simonal, no fim dos anos 60. A duradoura parceria matrimonial e profissional com Elis Regina, os trabalhos no exterior e o pioneirismo brasileiro no campo dos sintetizadores eletrônicos também afastaram César dos shows a três. Bandas maiores e orquestras se sucederam em discos importantes como o Octeto de César Camargo Mariano (1966), Elis e Tom (1974) e Samambaia (1981).
– Só mesmo o trabalho em duo se compara a tocar em trio, em termos de intimidade entre os músicos – sustenta o arranjador, que costuma se apresentar nos EUA. Europa e Japão acompanhado do guitarrista Romero Lubambo.
* Marco Antonio Barbosa e Luiz Lima viajaram a convite do Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga

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