Um homem, cinco mulheres e um retrato do cotidiano

Tribuna do Brasil

26/02/2009

Espetáculo mistura poesia, crítica e bom humor numa reflexão estética e política
Depois de quatro anos em turnê pelo País, chega a Brasília o espetáculo Suíte 1, da Companhia Brasileira de Teatro, sediada em Curitiba. A peça, que será encenada pela primeira vez na capital, sobe ao palco do Teatro da Caixa em curta temporada, de 27 de fevereiro a 1º de março. Sexta e sábado, com sessões às 20h e domingo, às 19h. Escrita em 2002 pelo dramaturgo Philippe Minyana, um dos mais importantes autores franceses contemporâneos, Suíte 1 faz parte de uma trilogia criada num contexto de pesquisa e observação do homem e que se utiliza da reflexão estética e política. Para retratar a vida em sociedade e o cotidiano, o espetáculo dirigido por Marcio Abreu mistura poesia, crítica e bom humor.
No palco, o elenco formado por Ranieri Gonzalez, Christiane de Macedo, Chiris Gomes, Giovana Soar, Nadja Naira e Thais Tedesco encena a insistente convivência de um homem e cinco mulheres em situações alternadas e numeradas, que misturam conversas e refeições. A partir daí, buscam restituir à memória os fatos de um passado comum.
Não se trata de uma trama convencional, e sim de um divertido retrato do cotidiano, montado como se fosse uma partitura musical. A montagem leva à cena fragmentos nos quais os personagens discorrem sobre “eus” e “outros”. Ao público, convém costurar seus próprios fios de um drama intimista. Se num momento pode parecer que nada acontece, aos poucos eclodem sentimentos e emoções que mostram toda sua força.
O cenário de Suíte 1 é despojado: sobre um piso branco, os elementos são apenas uma mesa quadrada, sete cadeiras, um mini refrigerador, uma cafeteira, um CD player portátil, um carrinho de bebê e um teclado. Neste ambiente, o homem e as cinco mulheres, porta-vozes do texto, reafirmam a própria existência em meio a aparente banalidade de suas vidas. “É uma obra que nos oferece um discurso atual, revelado numa sequência condensada de frases curtas, interrompidas, repetidas e re-significadas numa espécie de partitura dramática e bem humorada do cotidiano. Não é propriamente a transposição da fala cotidiana para a cena, mas a recriação de sua sonoridade e força poética”, define o diretor Marcio Abreu.Suíte 1 foi o primeiro texto de Philippe Minyana a ser traduzido, publicado e encenado no Brasil. A tradução feita por Giovana Soar foi lançada em 2008 na coleção Palco Sur Scene e publicada pela Imprensa Oficial de São Paulo em parceria com o Consulado Geral da França e a Aliança Francesa. Há seis anos viajando com os espetáculos do repertório fixo da companhia, entre eles “Volta ao Dia...” e “Apenas o fim do mundo”, Marcio Abreu relembra como foi o contato inicial com o texto do autor francês: “Para nós, a peça representou, no princípio, um exercício de linguagem, e acabou resultando numa abordagem dessa inquietante dramaturgia, sem pretensões espetaculares ou determinantes em relação a obra”.
Foi um convite da Aliança Francesa de Curitiba e da Câmara do Comércio Brasil-França que levou a Companhia Brasileira de Teatro a montar Suíte 1. Quando estreou e fez temporada no Espaço Sesc/Copacabana no Rio, a crítica da imprensa carioca destacou a direção sensível aos volteios do texto, a dinâmica simples e eficiente da montagem e as boas performances de todos os atores do elenco. Segundo Marcio Abreu, Giovana Soar e Nadja Naira, o trio de encenadores à frente da companhia, o texto bem calibrado e a afinação do elenco garantem a cumplicidade com o público.
Eles relembram o comentário de um crítico que escreveu que a montagem provoca com suavidade, instiga com discrição e brinca com rigor, fazendo a platéia compartilhar um espetáculo inteligente e sutil. A Companhia Brasileira de Teatro foi criada em 1999, em Curitiba, pelo ator, dramaturgo e diretor Marcio Abreu, que reuniu um núcleo de profissionais dispostos a trabalhar na criação de espetáculos, processos, e a pensar o teatro a cada projeto realizado. A Companhia trabalha com vertentes e linhas de atuação como: criação de dramaturgia original; releitura de clássicos; e, encenação e tradução de dramaturgia contemporânea inédita.
Além de Marcio Abreu, fazem parte do quadro fixo do grupo Giovana Soar e Nadja Naira. Ao longo destes quase dez anos de existência, a Companhia já montou os espetáculos “Adeus, Robinson!” (1999); “A vida é cheia de som e fúria” (2000); “Volta ao dia...” (2002/2008); “O Empresário” (2004); “Suíte 1” (2004/2008); “Apenas o fim do mundo” (2005/2008); “Semana Lagarce” (2006); “Polifonias” (2006); “Projeto COPI” (2007); “O que eu gostaria de dizer” (2008); além de promover a leitura de “Do Luxo e Da Impotência”, textos do francês Jean-Luc Lagarce, que contou com a direção de Marcio Abreu, teve a participação de Luis Melo, Simone Spoladore e Nadja Naira.
A Companhia Brasileira de Teatro e seus profissionais desenvolvem também atividades de intercâmbio e de formação em parceria com outros artistas. Durante o ano de 2003, por exemplo, Marcio, Giovana e Nadja realizaram, junto a Fundação Cultural de Curitiba, o projeto “Opera Illustrata”, composto por sete concertos didáticos de óperas. No ano seguinte, Marcio coordenou no Ateliê de Criação Teatral, em parceria com o ator Luis Melo, um grupo interdisciplinar de estudos sobre a obra de Tchekhov, realizando uma série de leituras dramáticas e performances. Além disso, a Companhia desenvolve atividades sócio-culturais junto a Fundação Lar Infantil Sol Amigo, instituição curitibana que atende crianças de 0 a 12 anos.Dramaturgo, diretor e ator, Philippe Minyana nasceu em Besançon, na França, em 1946. Já escreveu mais de trinta peças e libretos para ópera, tendo dirigido, inclusive, alguns de seus textos.
Entre 2001 e 2006, foi autor associado ao Teatro Dijon-Bourgogne. Minyana tem textos montados por diversos criadores em vários países, entre eles o Brasil.
Espetáculo “Suíte 1”, com a Companhia Brasileira de Teatro

* Data: 27, 28 de fevereiro e 1º de março de 2009
* Horário: sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h
* Local: Teatro da CAIXA - SBS Qd 4 lote 3/4, anexo do edifício Matriz da Caixa
* Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada para estudantes, pessoas com 60 anos)
* Classificação: livre