sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ministros da América Latina defendem investimento em cultura contra crise

Jornal de Brasília
27/02/2009

Ministros de Cultura e responsáveis pela área na América Latina e no Caribe pediram hoje em Buenos Aires que os países invistam no fortalecimento da diversidade para conter a crise financeira global.
Os titulares também defenderam que a cultura seja usada como ferramenta transformadora para combater a pobreza e as desigualdades sociais.
"Inventemos uma nova teoria que respeite nossa diversidade. Usemos a cultura não só como uma ferramenta da democracia, mas como potencialidade de transformação", defendeu a ministra da Educação e Cultura do Uruguai, María Simón.
Ao discursar no 16º Fórum de Ministros de Cultura e Encarregados de Políticas Culturais da América Latina e do Caribe, a funcionária uruguaia advertiu de que "a crise começou antes do ano passado, e na (área de) cultura", com a criação do que chamou de "ilhas de uniformidade" por parte da globalização.
Em sintonia com essa ideia, o embaixador da Venezuela em Buenos Aires, Arévalo Méndez, estimulou a região a criar "uma consciência coletiva para que, depois, seja gerada uma consciência de pertinência e outra de identidade".
"As potências centrais nos colocaram para combater nos âmbitos culturais. Fomos pasto fácil do modelo consumista, que gera poder político e, portanto, econômico", considerou o diplomata.
"Fortaleçamos a identidade própria, descubramos e avaliemos mil vezes o que é nosso. Façamos um censo, se for necessário. Resgatemos nossos valores e trabalhemos em políticas compartilhadas para combater o neocolonialismo. Só assim sairemos do atoleiro da pobreza e da desigualdade", assegurou.
Méndez disse que a América Latina e o Caribe "não podem voltar a pagar por uma crise" como aconteceu no século passado "com a reconstrução da Europa", após a Segunda Guerra Mundial.
O ministro de Cultura e Comunicação do Haiti, Olsen Jean Julien, desenvolveu a mesma linha de raciocínio e destacou que a cultura terá um "papel determinante" para enfrentar a crise.
"Transformar as pessoas em consumidoras é simplesmente reduzir a cultura. Se não identificarmos qual é a nossa e perdermos a capacidade de nos reconhecer, teremos sido vencidos na batalha", destacou.
O ministro haitiano considerou que as novas tecnologias "podem servir para reconstruir os valores próprios", e defendeu que "a cultura invada a educação".
"Não se trata de seguir criando indústrias culturais, mas de respeitar a diversidade cultural como foco na educação", disse.
Mario López Chavarri, ministro da embaixada do Peru na Argentina, convocou a região a resgatar experiências como a que o país possui, que, "frente às crises, desenvolveu a maior miscigenação da cultura, que o levou a se reconhecer melhor e a criar novas expressões culturais".
Os participantes deste fórum, que termina amanhã, ressaltaram a importância que a participação do Estado deve ter como "regulador e promotor" das manifestações culturais.
As políticas públicas "não devem ser entendidas como formas de censura", mas como ferramentas "para regular e facilitar expressões culturais", afirmou o ministro de Cultura do Paraguai, Ticio Escobar.
Já o vice-ministro de Cultura de Cuba, Fernando Rojas, destacou a necessidade de aplicar políticas públicas na cultura para que a região "possa se defender dos atentados contra a diversidade".
Com firmeza idêntica se expressou a equatoriana Glenda Calvas Chávez, subsecretária técnica do Ministério de Cultura, para quem "se o Estado não participar diretamente, haverá um atentado contra os direitos culturais".
Na mesma linha se pronunciou o ministro de Culturas da Bolívia, Pablo Groux, ao ressaltar que o Estado deve aplicar "regulações sérias", porque, disse, "fala-se de identidades e invisibilidades".
Alfonso Nieto, conselheiro da embaixada do México em Buenos Aires, usou um tom mais moderado e, apesar de ter coincidido na necessidade de desenvolver uma "maior mestiçagem" cultural, apontou um pensamento do escritor mexicano Carlos Fuentes.
"Ele diz que, quando uma civilização se fecha, enfraquece e tende a desaparecer. Aprofundemos a diversidade, mas não caiamos no narcisismo cultural. Mantenhamos nossas janelas abertas", refletiu.
Agência EFE

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