THIAGO GUIMARÃES
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires
24/02/2009
Eles venceram os clichês do tango sem renunciar ao formato acústico das orquestras tradicionais do gênero, pela atitude roqueira e com uma estética que foge do cânone tangueiro.
Os argentinos da Orquesta Típica Fernandez Fierro chegam ao Brasil nesta semana para apresentações em Brasília, quinta-feira no Teatro da Caixa, e em São Paulo, de sexta a domingo, no Auditório Ibirapuera. Na capital paulista, tocam pelo terceiro ano consecutivo, levando desta vez uma banda convidada --os folk rockers do Arbolito-- e a tradição de casa cheia. No show "El Hambre Orquesta", mostram o repertório do seu terceiro e último álbum, "Mucha Mierda" (2006), e temas do próximo disco, a ser gravado em maio.
Divulgação
Os integrantes da Orquestra Tipica Fernandez Fierro, cuja carreira comecou com shows no bairro de San Telmo, em Buenos Aires
Com os 12 integrantes na faixa dos 30 anos, a Fernandez Fierro conseguiu criar um vínculo com sua geração, algo incomum nas orquestras tradicionais. Cabelos compridos, dreadlocks, sonoridade áspera e performance intensa foram parte da alternativa que o grupo criou ao "tango souvenir" dos shows portenhos.
"Talvez estejamos fazendo algo mais real, sem nos fantasiarmos para tocar e sem buscarmos clichês turísticos que nos identifiquem com o passado", diz Flavio "El Ministro" Reggiani, 32.
Da personalidade própria e da empatia com o público da cultura rock veio a etiqueta "tango punk" para classificar a orquestra. Rótulo que às vezes se sobrepõe à própria música do grupo. "Isso pode não ser culpa nossa, mas em grande parte do tango, que muitas vezes mostra uma espécie de cartão postal que já não existe", afirma Reggiani.
Formada em 2001, a Fernandez Fierro começou com apresentações na tradicional feira de San Telmo, em Buenos Aires. Hoje tem seu próprio "bunker" no bairro portenho de Almagro, o Clube Atlético Fernandez Fierro, antiga oficina mecânica que lota todas as quartas para os shows da orquestra.
O fato é que a Fierro movimentou a cena tangueira de Buenos Aires. Egressos do grupo montaram novos conjuntos, uma cooperativa de orquestras típicas se formou. "Antes os músicos se formavam em conservatório, tocavam 15 anos em casa e aí saiam a tocar. Começamos com a filosofia mais punk do 'não sei tocar, mas quero e vou'", afirma Yuri Venturín, 34, contrabaixista e diretor musical da orquestra.
No altar da Fernandez Fierro há velas para compositores clássicos do tango, como Francisco Pracánico (1898-1971) e Celedonio Flores (1896-1947), de quem tocam "Corrientes y Esmeralda". Mas sempre com arranjos originais para não emoldurar os mestres.
No show, o irreverente crooner Walter "El Chino" Laborde, 36, interpreta três tangos de Alfredo "Tape" Rubín, da safra de novos compositores portenhos, uma versão para "Larga Noche", da folclorista peruana Isabel "Chabuca" Granda (1920-1983), e "Azucena Alcoba", do diretor Venturín.
Também está prevista uma jam com os convidados do Arbolito. A banda de folk rock mostra canções de seu último álbum, "Cuando Saiga el Sol" (2007), que marcou a saída da banda do circuito independente após uma década de carreira.
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