Bolívar Torres, Jornal do Brasil
17/02/2009
Foi analisando nossa espécie por pontos de vistas inusitados que se tornou o segundo autor francês mais vendido no mundo (logo depois de Marc Lévy), com quase 20 milhões de cópias e traduções para 35 línguas. Como comprova o sucesso de sua trilogia As formigas, escrita entre 1991 e 1996, e cujo segundo volume, O dia das formigas, acaba de sair no Brasil (o terceiro, A revolução das formigas, será lançado até o segundo semestre). Best-seller planetário, a obra cruza a sociedade humana com o mundo subterrâneo das formigas, imaginando como os insetos nos veem – e o que diabo estes seres, ultra-organizado e enigmáticos, pensam de nós.
– Não podemos entender como funciona um sistema quando estamos dentro dele – analisa Werber, em entrevista ao Jornal do Brasil. – Só podemos realmente enxergar as coisas quando assumimos pontos de vistas exóticos. As ovelhas que estão em um rebanho não veem para onde o grupo vai, a não ser que saiam de lá. Acho necessário que apareçam vigias ou inventores que façam perguntas sobre a direção que toma o rebanho. Mas só podem fazer isso se saírem do ponto de vista normal.
Os três volumes de As formigas fogem mesmo da normalidade. A trama se passa na floresta de Fontainebleau e se divide em dois núcleos: o universo dos homens e o das formigas. A aventura humana se desenvolve a partir da figura de Edmond Wells, um eminente mirmecólogo, morto desde o início do primeiro livro, e cujas descobertas revolucionárias sobre os insetos são herdadas pelo sobrinho, Jonathan.
Enquanto isso, na mesma floresta uma colônia de formigas, formada por 64 cidades e 18 milhões de indivíduos, começa a se preocupar com a ameaça dos homens. As duas tramas evoluem paralelamente em clima de suspense, numa mistura de thriller com ficção científica, até o explosivo encontro final.
– Não podemos entender como funciona um sistema quando estamos dentro dele – analisa Werber, em entrevista ao Jornal do Brasil. – Só podemos realmente enxergar as coisas quando assumimos pontos de vistas exóticos. As ovelhas que estão em um rebanho não veem para onde o grupo vai, a não ser que saiam de lá. Acho necessário que apareçam vigias ou inventores que façam perguntas sobre a direção que toma o rebanho. Mas só podem fazer isso se saírem do ponto de vista normal.
Os três volumes de As formigas fogem mesmo da normalidade. A trama se passa na floresta de Fontainebleau e se divide em dois núcleos: o universo dos homens e o das formigas. A aventura humana se desenvolve a partir da figura de Edmond Wells, um eminente mirmecólogo, morto desde o início do primeiro livro, e cujas descobertas revolucionárias sobre os insetos são herdadas pelo sobrinho, Jonathan.
Enquanto isso, na mesma floresta uma colônia de formigas, formada por 64 cidades e 18 milhões de indivíduos, começa a se preocupar com a ameaça dos homens. As duas tramas evoluem paralelamente em clima de suspense, numa mistura de thriller com ficção científica, até o explosivo encontro final.
Conto filosófico
Quando começou a escrever o primeiro volume, aos 16 anos, Werber não tinha intenção de criar uma trilogia. Mas, quando os críticos apontaram seu livro como uma simples história sobre insetos, o autor se sentiu incompreendido e resolveu dar seguimento à trama. O objetivo era provar que as tais formigas serviam, na verdade, como metáfora para discutir algo mais profundo.
– O que me interessa é o homem, o futuro e a humanidade – reitera Werber, que antes de se lançar na carreira de escritor trabalhou 10 anos como jornalista científico. – As formigas são apenas um ponto de vista exótico para falar do homem.
A trilogia incorpora temas científicos e filosóficos a gêneros já bastante demarcados da literatura popular. Não por acaso foi adotada no ensino de ciências pelas escolas francesas. Werber flerta com todos os grandes temas da civilização, como sociologia, biologia, mitologia, espiritualidade e ciências políticas, sempre numa narrativa simples, de fácil leitura. Na hora de classificar seus romances, porém, o autor prefere a aproximação com o conto filosófico, gênero imortalizado no século 18 por Voltaire e Jonathan Swift.
– Eu gostaria de criar um novo gênero: a ficção filosófica, que seria uma espécie de continuação da ficção científica. A ciência não salvará ninguém. O verdadeiro caminho é a mudança de mentalidade.
Mesmo vendo a trajetória humana com olhos críticos, o escritor não perdeu a esperança em nossa espécie. Ele próprio se define como um “sonhador”:
– O homem ainda está na fase da adolescência – filosofa. – Faz besteiras porque tenta entender. Só espero que não destrua o planeta antes.
O sucesso comercial dos livros de Werber (o autor é hoje uma mega-celebridade na Coréia do Sul) não convenceu os críticos. Mas o escritor não se importa com as pedradas do meio literário. Tranquilo, cita o ditado bíblico: “Ninguém é profeta em sua terra”.
– É normal que isso aconteça – conforma-se. – Todo fenômeno novo não pode ser reconhecido por um sistema antigo. Se o sistema antigo se entusiasma com um autor, é porque ele se parece com aquilo que já se conhece. Nunca vimos um inovador ser reconhecido vivo...
Quando começou a escrever o primeiro volume, aos 16 anos, Werber não tinha intenção de criar uma trilogia. Mas, quando os críticos apontaram seu livro como uma simples história sobre insetos, o autor se sentiu incompreendido e resolveu dar seguimento à trama. O objetivo era provar que as tais formigas serviam, na verdade, como metáfora para discutir algo mais profundo.
– O que me interessa é o homem, o futuro e a humanidade – reitera Werber, que antes de se lançar na carreira de escritor trabalhou 10 anos como jornalista científico. – As formigas são apenas um ponto de vista exótico para falar do homem.
A trilogia incorpora temas científicos e filosóficos a gêneros já bastante demarcados da literatura popular. Não por acaso foi adotada no ensino de ciências pelas escolas francesas. Werber flerta com todos os grandes temas da civilização, como sociologia, biologia, mitologia, espiritualidade e ciências políticas, sempre numa narrativa simples, de fácil leitura. Na hora de classificar seus romances, porém, o autor prefere a aproximação com o conto filosófico, gênero imortalizado no século 18 por Voltaire e Jonathan Swift.
– Eu gostaria de criar um novo gênero: a ficção filosófica, que seria uma espécie de continuação da ficção científica. A ciência não salvará ninguém. O verdadeiro caminho é a mudança de mentalidade.
Mesmo vendo a trajetória humana com olhos críticos, o escritor não perdeu a esperança em nossa espécie. Ele próprio se define como um “sonhador”:
– O homem ainda está na fase da adolescência – filosofa. – Faz besteiras porque tenta entender. Só espero que não destrua o planeta antes.
O sucesso comercial dos livros de Werber (o autor é hoje uma mega-celebridade na Coréia do Sul) não convenceu os críticos. Mas o escritor não se importa com as pedradas do meio literário. Tranquilo, cita o ditado bíblico: “Ninguém é profeta em sua terra”.
– É normal que isso aconteça – conforma-se. – Todo fenômeno novo não pode ser reconhecido por um sistema antigo. Se o sistema antigo se entusiasma com um autor, é porque ele se parece com aquilo que já se conhece. Nunca vimos um inovador ser reconhecido vivo...
Escritor admite infuência de Jorge Furtado
Depois do sucesso literário, Bernard Werber resolveu se aventurar no cinema. Seu primeiro longa-metragem, Nos amis les terriens (Nossos amigos terráqueos), de 2007, tem inspiração brasileira. O longa observa o comportamento humano do ponto de vista de um extraterrestre, que estaria fazendo um documentário sobre nós. A ideia lembra o cultuado curta-metragem do diretor gaúcho Jorge Furtado, Ilha das Flores. A partir da trajetória de um tomate, desde o seu ponto de origem (o plantio na terra do Sr. Suzuki) até seu ponto final (a descarga pública para alimentar porcos e pessoas pobres), o curta mostrava de forma didática o comportamento da nossa espécie, como se apresentasse a Terra a um visitante interplanetário. A proximidade entre as obras não é coincidência.
– Eu vi Ilha das Flores depois de ter escrito o roteiro do meu curta-metragem de estréia – admite Werber. – Adorei desde o começo. Para mim é “A” referência em curtas.
O diretor-escritor diz que compartilha com o colega gaúcho o gosto pelo inusitado.
– Eu e Furtado temos as mesmas preocupações – avalia. – Queremos saber quem são os humanos. E como conseguimos fazer coisas tão estranhas! Fiz o longa-metragem imaginando como ele próprio o faria se houvesse tido condições.
Furtado, que ainda não leu a obra de Werber, buscou, em Ilha das Flores, um ângulo inusitado para falar da miséria. Tudo porque os brasileiros, tão acostumados em vê-la todos os dias, deixaram de se chocar com as injustiças sociais.
– Sobre a questão do “ponto de vista exótico” mencionada por Werber, minhas claras influências para o Ilha foram Kurt Vonnegut Jr. e Alain Resnais – lembra Furtado.
Depois do sucesso literário, Bernard Werber resolveu se aventurar no cinema. Seu primeiro longa-metragem, Nos amis les terriens (Nossos amigos terráqueos), de 2007, tem inspiração brasileira. O longa observa o comportamento humano do ponto de vista de um extraterrestre, que estaria fazendo um documentário sobre nós. A ideia lembra o cultuado curta-metragem do diretor gaúcho Jorge Furtado, Ilha das Flores. A partir da trajetória de um tomate, desde o seu ponto de origem (o plantio na terra do Sr. Suzuki) até seu ponto final (a descarga pública para alimentar porcos e pessoas pobres), o curta mostrava de forma didática o comportamento da nossa espécie, como se apresentasse a Terra a um visitante interplanetário. A proximidade entre as obras não é coincidência.
– Eu vi Ilha das Flores depois de ter escrito o roteiro do meu curta-metragem de estréia – admite Werber. – Adorei desde o começo. Para mim é “A” referência em curtas.
O diretor-escritor diz que compartilha com o colega gaúcho o gosto pelo inusitado.
– Eu e Furtado temos as mesmas preocupações – avalia. – Queremos saber quem são os humanos. E como conseguimos fazer coisas tão estranhas! Fiz o longa-metragem imaginando como ele próprio o faria se houvesse tido condições.
Furtado, que ainda não leu a obra de Werber, buscou, em Ilha das Flores, um ângulo inusitado para falar da miséria. Tudo porque os brasileiros, tão acostumados em vê-la todos os dias, deixaram de se chocar com as injustiças sociais.
– Sobre a questão do “ponto de vista exótico” mencionada por Werber, minhas claras influências para o Ilha foram Kurt Vonnegut Jr. e Alain Resnais – lembra Furtado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário