segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sucesso na década de 80, banda Blitz ganha sua história escrita

Folha OnLine
IVAN FINOTTI
da Folha de S.Paulo
16/02/2009

Em seu livro sobre a história do rock brasileiro ("Dias de Luta", 2002), o jornalista Ricardo Alexandre descreveu assim a canção que tornou a Blitz conhecida em todo o Brasil: "'Você Não Soube Me Amar' trazia a novidade do canto falado (...), a economia do punk (...), um riff de guitarra anos 60, uma base segura, uma letra que era puro discurso de rua. E um refrão poderosíssimo, como não se via desde, quem sabe, as maiores pepitas da jovem guarda".
"Estava descoberta a pólvora", resumiu Arthur Dapieve em seu "BRock - O Rock Brasileiro dos Anos 80" (1995).
Como se vê, os historiadores do rock brasileiro nunca negaram que a Blitz escancarou a porta para o Barão Vermelho, Paralamas, Titãs, RPM e Legião Urbana. Mas, se esses cinco grupos já tiveram suas memórias publicadas, faltava ainda quem colocasse no papel as aventuras dos pioneiros.
Não mais. O jornalista Rodrigo Rodrigues acaba de preencher essa lacuna com "As Aventuras da Blitz", uma obra de 300 páginas, 200 imagens e dezenas de entrevistas.
É justo que a banda ganhe seu próprio livro: nunca levada muito a sério como grupo musical, virou mania antes do RPM --era adorada especialmente pelas crianças_ e talvez tenha sido a banda que mais influenciou o comportamento naquela década, ganhando até álbum de figurinhas.
Basta lembrar as roupas extravagantes de Fernanda Abreu e Márcia Bulcão, o topete de Evandro Mesquita e as expressões "o.k., você venceu" ou "desce dois, desce mais", repetidas por jovens no país inteiro.
Dono de um texto bem-humorado, que combina com a Blitz, Rodrigues se tornou próximo de Mesquita e companhia há alguns anos, ao filmar shows e viagens da banda, que até hoje está na ativa.
Mas essa proximidade não impediu que surpresas aparecessem. "Não sabia, por exemplo, que a Fernanda Abreu cantava antes da Blitz. Ela estava numa banda com o Léo Jaime chamada Nota Vermelha. Também fiquei muito surpreso que uma outra backing vocal tenha passado pela Blitz antes. É a Katia B., mulher de João Barone, o baterista dos Paralamas", conta Rodrigues.
O fato de ser amigo de alguns integrantes não faz de "As Aventuras da Blitz" uma biografia chapa-branca. "Fiz direitinho o dever de casa", diz ele. "Por exemplo: o Lobão é o responsável pelo nome da banda. Mas o Evandro disse que a história não era bem assim. Coloquei as duas versões. Acho que o livro é isento", afirma. "E o Evandro foi muito correto. Não ficou querendo ler nem ficou patrulhando os assuntos que eu abordava. As brigas importantes estão todas lá", afirma.
Entrevistas recusadas
Na verdade, a amizade atrapalhou a apuração, já que três integrantes da formação oficial estão brigados com Evandro e se recusaram a dar entrevistas para Rodrigues. "O guitarrista Ricardo Barreto, sua mulher, Márcia Bulcão, e o baixista Antonio Pedro não quiseram falar. Usei declarações deles à imprensa da época."
Para o visual do livro, Rodrigues chamou o designer Luiz Stein, o mesmo que, ao lado de Gringo Cardia, planejou e executou a programação visual da banda, a começar pelas capas dos discos.
Já para a caça das imagens, Rodrigues não precisou ir muito longe. "Fernanda tinha seis pastas de arquivo com todo o material que reuniu na época: recortes de jornais, páginas de revistas, ingressos de shows, credenciais, crachás etc. Ela guardava tudo."
Além de biógrafo da Blitz, Rodrigues é apresentador do programa "Vitrine", da TV Cultura, e se apresenta com seu grupo The Soundtrackers uma vez por mês, no Na Mata Café. No repertório, apenas trilhas de filmes.

"AS AVENTURAS DA BLITZ"
Autor: Rodrigo Rodrigues
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 54,90 (308 págs.)

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