MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo
02/02/2009
Em um dia qualquer nos anos 80, Vanda Mangia Klabin entrou despreocupadamente no bar Lagoa, um dos mais tradicionais do Rio, famoso por seus garçons mal-humorados. Deu de cara com seu amigo Jorge Guinle, que almoçava em uma das mesas.
"Não me esqueço. Ele estava completamente coberto por tinta, incluindo o livro que ele lia durante a refeição. Jorge era assim, vivia a pintura de modo muito intenso", conta ela, hoje curadora de "Jorge Guinle - Belo Caos", que é aberta amanhã no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). "O ateliê dele [em Copacabana] também sintetizava sua forte relação com a pintura. Mal dava para entrar, o rastro das tintas já começava fora. E, dentro, nada escapava dos respingos."
Tal vigor pictórico está presente na exposição do museu paulistano, com 54 trabalhos, entre pinturas e desenhos, 18 a mais que na mostra apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no ano passado. Depois da morte de Guinle, em 1987, é a primeira grande retrospectiva em SP dedicada ao artista nascido em Nova York e que tornou-se um dos principais nomes do lado carioca da geração 80.
"Acho que a exposição traz um pouco do clima dos anos 80, quando a pintura é revalorizada aqui e lá fora. E houve a Bienal da "grande tela" [em 1985]", afirma Klabin, que assina a curadoria da exposição junto do crítico de arte e professor da PUC-Rio Ronaldo Brito. "Mas hoje há toda uma nova geração de pintores, que pode ter em Guinle uma forte influência."
Sete anos
De acordo com Brito, o recorte da exposição se concentra na produção de Guinle nos anos 80 porque sua produção anterior ainda era "incipiente". "A obra de Guinle só vai ganhar estatura e solidez entre 1981 e 1987, um curto período, mas de grande densidade e produção", diz ele, amigo do artista desde que ambos faziam o curso clássico no Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, no Rio.
Quadros como "Florescer" (1981), para Brito, sintetizam a primeira grande fase de Guinle, quando ainda há alguma figuração. A pintura também tem "respiro" e é mais plana.
A fase seguinte, que vai deixar Guinle famoso a partir da participação na 17ª Bienal de São Paulo, em 1983, é a que tem as telas de maiores dimensões --algumas, como "1984", têm 3,40 m de largura-- e um estilo mais carregado. "É quando a obra de Guinle explode. Tudo fica mais matérico, a pintura adquire quase um componente corpóreo", diz Brito. "Ele é um dos grandes coloristas da arte brasileira. Sua obra relê de Matisse a Philip Guston."
A mostra é encerrada com telas da última fase de Guinle, como "O Manto" (1987), em que a tinta escorre pela superfície da tela. "É como uma pintura interrompida. Percebe-se como ele iria longe", avalia Brito.
"Não me esqueço. Ele estava completamente coberto por tinta, incluindo o livro que ele lia durante a refeição. Jorge era assim, vivia a pintura de modo muito intenso", conta ela, hoje curadora de "Jorge Guinle - Belo Caos", que é aberta amanhã no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). "O ateliê dele [em Copacabana] também sintetizava sua forte relação com a pintura. Mal dava para entrar, o rastro das tintas já começava fora. E, dentro, nada escapava dos respingos."
Tal vigor pictórico está presente na exposição do museu paulistano, com 54 trabalhos, entre pinturas e desenhos, 18 a mais que na mostra apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no ano passado. Depois da morte de Guinle, em 1987, é a primeira grande retrospectiva em SP dedicada ao artista nascido em Nova York e que tornou-se um dos principais nomes do lado carioca da geração 80.
"Acho que a exposição traz um pouco do clima dos anos 80, quando a pintura é revalorizada aqui e lá fora. E houve a Bienal da "grande tela" [em 1985]", afirma Klabin, que assina a curadoria da exposição junto do crítico de arte e professor da PUC-Rio Ronaldo Brito. "Mas hoje há toda uma nova geração de pintores, que pode ter em Guinle uma forte influência."
Sete anos
De acordo com Brito, o recorte da exposição se concentra na produção de Guinle nos anos 80 porque sua produção anterior ainda era "incipiente". "A obra de Guinle só vai ganhar estatura e solidez entre 1981 e 1987, um curto período, mas de grande densidade e produção", diz ele, amigo do artista desde que ambos faziam o curso clássico no Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, no Rio.
Quadros como "Florescer" (1981), para Brito, sintetizam a primeira grande fase de Guinle, quando ainda há alguma figuração. A pintura também tem "respiro" e é mais plana.
A fase seguinte, que vai deixar Guinle famoso a partir da participação na 17ª Bienal de São Paulo, em 1983, é a que tem as telas de maiores dimensões --algumas, como "1984", têm 3,40 m de largura-- e um estilo mais carregado. "É quando a obra de Guinle explode. Tudo fica mais matérico, a pintura adquire quase um componente corpóreo", diz Brito. "Ele é um dos grandes coloristas da arte brasileira. Sua obra relê de Matisse a Philip Guston."
A mostra é encerrada com telas da última fase de Guinle, como "O Manto" (1987), em que a tinta escorre pela superfície da tela. "É como uma pintura interrompida. Percebe-se como ele iria longe", avalia Brito.
Jorge Guinle - Belo Caos
Quando: abertura amanhã, às 20h (convidados);
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 22/3
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300); livre
Quanto: R$ 5,50
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