quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mostra reúne a produção teatral do Recife

Macksen Luiz,
Jornal do Brasil
05/02/2009

RECIFE - A 15ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos, que em mais um ano reúne a produção teatral do Recife numa mostra compacta dos espetáculos da temporada anterior para público e curadores de festivais nacionais, traça mapa de contornos definidores da geografia teatral da cidade. É uma oportunidade para medir o que está sendo feito num pólo regional, com tradição cênica e resistentes manifestações culturais populares, numa seleção de cerca de duas dezenas de montagens, entre infantis e adultos, que estiveram em cartaz nos teatros recifenses em 2008. Além dos possíveis convites para ida a festivais, os espetáculos concorrem a prêmios, que se distribuem por diversas categorias.
Os jurados, na sua maioria os curadores, foram muito criteriosos na premiação, já que apontaram o que mais se destacava em cada montagem, pinçando qualidades em produções inquietas, curiosas, mas irregulares. Pela amostragem desta edição o Janeiro confirma o que já se percebia no ano passado: Recife tem um movimento teatral ativo, ainda que modesto numericamente, e com algumas vertentes de criação que se confundem, ora com algumas linhas cênicas mais provocativas ora com o mais canhestro convencionalismo teatral. Há algum desencontro entre as propostas cênicas e a sua realização, com idéias interessantes que acabam por resultar em realizações frustradas, ainda que se perceba, em parte delas, uma base de encenação consistente. Não foi por acaso que os jurados escolheram como melhor espetáculo Ato, talvez o mais bem acabado de toda a mostra.
Numa pesquisa de clown e com as indisfarçáveis limitações expressivas do gênero, Ato conduz esta proposta restritiva, entre delicadas e cruéis pantomimas sobre domínio e poder, com bom nível de concretização e previsíveis, mas eficientes, vôos poéticos.
Outra das montagens premiadas, esta nas categorias Direção, Trilha Sonora e Iluminação, Rasif – Mar que arrebenta, baseada em narrativas do autor pernambucano Marcelino Freire, mereceu os prêmios por aquilo que demonstra ter de mais inventivo.
As narrativas curtas que exploram as origens históricas, sociais e vernaculares do Recife (rasïf, palavra árabe que deu origem ao nome da cidade, significa “terreno pavimentado com lajes, estrada pavimentada com rochedos”, e pernambuco, “onde o mar se arrebenta”) são encenadas com ênfase sobre cada um desses aspectos. Numa concepção visual, com o uso de projeções de escrita, refrações de luzes em espelhos e estilos interpretativos entre o denso e o popular, Rasif tem trilha áspera de sonoridade sincrética para histórias que nem sempre se aclimatam no palco.
O diretor Vital Santos encena em Cantigas do sol ou Dom Quixote de cordel as composições de Luiz Gonzaga, recorrendo a imagens de feiras nordestinas, folguedos populares e ao cenário da seca. Criando verdadeiros quadros vivos, alguns até com bons efeitos visuais, Vital Santos se perde em derivações sobre o mesmo tema e desperdiça o que a montagem tem de mais vigoroso, a direção musical, que valoriza em arranjos criativos a música de Gonzaga.

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