segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Hip Hop agita o domingo

Tribuna do Brasil
Autor: Irene Oliveira

16/02/2009

Evento busca a valorização da cultura da periferia
O III Festival de Hip Hop do Cerrado, que aconteceu na tarde de ontem, na Torre de TV, reuniu um público significativo. Horas de atraso não impediram que os adeptos do movimento esperassem para conferir de perto a programação, que reuniu, no mesmo palco, os quatro elementos que compõem o estilo musical: Rap, Brack, Grafite e DJ.O produtor musical, coordenador e idealizador do evento, Raffa Santoro, destacou que o principal objetivo do festival, vai além do entretenimento.
“Buscamos dar continuidade à discussão sobre os diversos problemas de violência, que todas as comunidades brasileiras em todos os níveis, enfrentam diariamente”, esclareceu.Ao ar livre, centenas de pessoas acompanharam a abertura do evento com o grupo de capoeira “Grito de Liberdade”, do Centro Cultural e Social do Riacho Fundo I. Na sequência, aconteceram apresentações de DJ’s, grupos de dança, o grupo de Rap Mulheres Guerreiras, participação dos DJ’s Markynhos, da Smurphies Disco Club e Buiú, de São Paulo. Além de Break com Improviso de Rua, BSB Girls e DF Zulu Breakers.
O público demonstrou a diversidade cultural alcançada pelo movimento. Idades variadas, estilos e classes sociais se confundiam no embalo da música brasileira, que não deixou ninguém ficar parado. Negros e brancos, pobres e ricos. Extremos que se uniram em busca de uma causa que vai além do preconceito. Por meio da arte e talento individual, potencializados pela oportunidade da descoberta, ajudam no resgate social e cultural proporcionado pelo movimento.
Santoro ressaltou ainda, que o evento busca a valorização da cultura da periferia. “Quando se dá oportunidade aos jovens do subúrbio para mostrarem sua arte e talento no centro da capital federal, interferimos diretamente na transformação social, retirando-os das ruas, do tráfico, de gangues, prostituição e apontamos horizontes concretos, possíveis, de cidadania e respeito”, completou.Durante o evento, quatro grafiteiros pintaram painéis, que buscavam representar os quatro elementos do movimento Hip Hop.
Cada um ao seu estilo impressionava a platéia com manobras livres empunhadas por seus spray’s coloridos, que ao mesmo tempo pareciam ensaiadas. O resultado se resume em um misto de arte e talento dos homens de consciência e responsabilidade social.
Por meio do Movimento Hip Hop, os ex-pichadores se tornaram artistas, idealizadores, comprometidos com uma causa social que todos conhecem muito bem. Gilmar Cristiano, 36 anos, grafiteiro há 17, conhecido como Satão, participa do movimento há pelo menos 20 anos, e é um dos fundadores do primeiro grupo de grafiteiros de Brasília, o DF Zulu. “Fui pichador durante 10 anos, como uma forma de protesto. A pichação tem um lado marginal.
Hoje tento tirar o jovem da ociosidade por meio de palestras e oficinas que ministro em escolas públicas. Acredito que muita coisa no âmbito social pode mudar por meio do grafite e dos demais elementos do Hip Hop”, avaliou Satão.Marco Aurélio, 29 anos, grafiteiro há 13, conhecido como Snupi, também já foi pichador. Ele explicou que a pichação era uma forma de externalizar uma revolta. Hoje, ele percebe que tem mais haver com auto-afirmação.
“Acreditamos que é possível este resgate social, hoje trabalho e me sustento com ilustrações, aerografia e o grafite”, destacou.Flávio Mendes, 23 anos, grafiteiro há sete, conhecido como Soneca, também já pichou, diz que foi coisa de adolescente.
“Hoje a pintura é minha profissão, trabalho com tatuagem e aerografia, além das telas de grafite”, assinalou.Rivanilson Silva Alves, 38 anos, um dos grafiteiros mais antigos e reconhecidos de Brasília, já viajou inúmeros estados brasileiros para mostrar seu talento. Ele já passou pelos quatro elementos do Hip Hop, já cantou, dançou, mas agora se dedica à arte de grafitar e ao resgate social de jovens.
“Tenho um grupo chamado ‘Força Tarefa’, conversamos muito com garotos que estão no submundo do crime, meu trabalho social tem cunho cristão, sempre com mensagens bíblicas. Com isso, muitos são incomodados e impactados a sair do crime”, afirmou.
Segundo Santoro, um dos grandes desafios do movimento é despertar o interesse nas várias camadas da sociedade, por meio da inserção do Hip Hop.
Para o produtor, essa é uma cultura que pode fazer a diferença para os jovens brasileiros que são submetidos a vários tipos de violência, falta de atendimento básico à saúde, a moradia insalubre em locais marcados pela criminalidade ou controlados pelo crime organizado e sobretudo, a falta de lazer e educação. “A cultura Hip Hop vai além de shows mostrando a consciência e a responsabilidade social”, concluiu.
Fonte : Tribuna do Brasil
Data : 16 de fevereiro de 2009

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