terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CCBB exibe filmes do diretor alemão Helmut Kaütner

Ricardo Daehn
Do Correio Braziliense
03/02/2009

Amor e guerra são temas recorrentes na obra do diretor alemão Helmut Kaütner
Histórias de amor, melodramas e alguma dose de cunho político são elementos presentes na filmografia do diretor alemão Helmut Kaütner que, a partir desta terça, se torna mais conhecido na capital, quase 30 anos depois da morte.
Com grande reconhecimento na terra natal, o cineasta nascido em Düsseldorf (e morto na Itália, aos 72 anos) não goza de muita popularidade no Brasil, tendo apenas um filme lançado em DVD, a história de amor encabeçada por Romy Schneider sob o título de Monpti — Um amor em Paris (1957).
A partir da mostra O Cinema de Helmut Kaütner, estendida até domingo no Centro Cultural Banco do Brasil e organizada com entrada franca, há perspectiva do maior entendimento das qualidades atribuídas ao cineasta que diversificou a atuação nas artes, ao aprimorar os estudos nos campos da arquitetura, da filosofia, do design, da história da arte e da interpretação teatral. Com 36 realizações para o cinema, Kaütner terá a terça parte das fitas integradas à mostra realizada pela parceria entre o CCBB e o Instituto Goethe.
Tido como obra-prima, Romance em bemol (1943) foi contemplado na programação da primeira noite da mostra, tendo certa dose de controvérsia, uma vez que a estrela Marianne Hoppe teve estreita ligação com o nazismo, ostentando a fama de atriz mais bem paga da Alemanha, até a Segunda Guerra.
No filme, baseado em conto do francês Guy de Maupassant e ambientado em Paris, Hoppe interpreta a via-crúcis de uma adúltera pronta para sucumbir ao suicídio, por chantagem que sabota o caso dela com jovem estudioso de música e criador do tema musical que batiza o filme. A mesma atriz está no outro melodrama da noite (com sessão às 18h30), Até logo, Franziska! (1941), que examina a construção da felicidade e a derrocada da mãe de dois filhos, presa à relação, entre 1932 e a Segunda Guerra Mundial, com um repórter despachado sistematicamente para vários lugares do mundo.
Partilhando do mesmo convívio com a solidão, o rei bávaro Luís II é o protagonista de Brilho e miséria de um rei (1955), que explora, no século 19, além das circunstâncias da morte misteriosa dele, a amizade mantida com Richard Wagner e a compulsão do líder pela construção de castelos. Outro enredo triste comandado por Kaütner e selecionado para a mostra do CCBB está em Grande liberdade nº 7 (1944), sobre a iminente separação do ex-marinheiro Hannes e da amada Gisa. Sem ser omisso com relação às atrocidades do nazismo, Helmut Kaütner, na verdade, foi precavido, remexendo em temas mais espinhosos, tão somente depois do encerramento da guerra. A dissonância com o regime imposto por Adolph Hitler está patente em O general do diabo (1955), que dramatiza a experiência verídica do piloto Ernst Udet transformado, na ficção, no general Harras, um espírito libertário ceifado pelo autoritarismo.
Outra fita reconhecida a integrar o evento do CCBB é A última ponte (prêmio Ocic no Festival de Cannes de 1954).
No filme, protagonizado por Maria Schell (de Os irmãos Karamazov), a médica alemã Helga, que atende em hospital militar, vive o dilema de ajudar rebeldes iugoslavos atingidos por um surto de tifo. A Alemanha arrasada pela Segunda Guerra serve como pano de fundo para Naqueles dias (1947), numa das mais criativas produções da época que parte da trajetória de um automóvel, embaralhada com o destino de sete ex-proprietários dele.
Antes mesmo da construção do Muro de Berlim, Kaütner anteviu o sistema da brutal polarização da Alemanha, ao criar Céu sem estrelas (1955), numa trama de amor interdita por politicagem. A fita mais recente a ser exibida no CCBB, A ruiva (candidata a prêmios no Festival de Berlim de 1962), igualmente, entrelaça amor, melancolia e nazismo. Distante de temas densos, o cineasta ainda foi incensado por filmes como Debaixo das pontes (1945), que revela uma saudável disputa amorosa entre os amigos Hendrik e Willy, pontuada por inesperada alegria solar, e Noivado em Zurique (1956), no qual ele aplicou metalinguagem para desenredar uma ciranda amorosa. Também com andamento diferenciado, em relação ao conjunto da obra, O capitão de Köpenik (1956), inspirado em peça do dramaturgo Carl Zuckmayer (com base em caso verídico), emplacou sucesso de público alemão, ao reproduzir a história de um criminoso que adquire um uniforme militar e toma de assalto um distrito alemão.

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