quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

JB OnLine
Luiz Felipe Reis, Jornal do Brasil

18/02/2009

RIO - Dificilmente esta página será virada na história da Câmara Brasileira do Livro. Discussões ríspidas e acusações seladas pela internet balizaram os tensos últimos meses de campanha para as eleições que decidem nesta quarta-feira, em São Paulo, até as 17h, a nova presidência da CBL entre 2009 e 2011.
O bombardeio de críticas e acusações disparado pelos editores Luiz Fernando Emediato (da Geração Editorial) e Armando Antongini Filho (Editora Leitura), que se lançam contra a atual administração da CBL, presidida por Rosely Boschini (Editora Gente). é vasto: eles acusam a gestora de fazer contratos que ferem às leis de renúncia fiscal, de prestações irregulares de contas, notas de reembolso fraudadas para cobrir gastos excessivos e indevidos para viagens ao exterior e compra de artigos pessoais de luxo, recusa à participação de debates, incompetência na ampliação de atividades nacionais, pouca representatividade política e queda de público e importância da feira Bienal do Livro de São Paulo. Rosely, por sua vez, defende-se, dizendo que as acusações são infundadas em sua caminhada para dar prosseguimento às ações implementadas na CBL desde 2007.
Para a disputa, Antongini Filho (candidato à presidência) e Emediato (vice-presidente de Comunicação) formaram a chapa Mudança e Participação, que trabalhou nos últimos meses numa intensa campanha virtual (pelo site www.mudacbl.com.br) para derrubar a chapa de Rosely, Trabalho e Seriedade, que quer a reeleição. Ao longo dos dois anos em que atuou ao lado da presidente, Emediato diz ter colecionado ressalvas que agora servem como sustentação para o seu mandato.
– Ela não tem a mínima capacidade para dirigir a entidade, que hoje não tem prestígio algum com a classe, com as diversas esferas do governo e que se atém à realização da Bienal como única função – dispara Emediato. – Rosely cometeu uma série de desvios éticos que por si só já a impediriam moralmente de tentar uma reeleição. O que nos deixa perplexos é ver que personalidades sérias do mercado continuam a apoiar. São irregularidades constrangedoras.
A mais grave delas, expõe Emediato, seria a assinatura de uma carta-acordo com a empresa Motivare, em junho de 2007 para a captação de recursos por renúncia fiscal (Lei Rouanet) para a realização da Bienal do Livro 2008, na capital paulista.
No trato, Emediato afirma que a empresa abriria mão de receber o repasse de 10% previsto por lei para a captação inicial de R$ 1,5 milhão. Porém, um dispositivo destinando à empresa garantia 90% de comissão pelos recursos captados acima deste valor até o teto de R$ 3,1 milhões. Para o editor, trata-se de um contrato secreto assinado por Rosely – tendo o candidato à vice-presidência dela, Oswaldo Siciliano, como única testemunha, mas sem passar pela Consultoria Jurídica e pelo vice-presidente financeiro da CBL.
– É tão escandaloso que, pela lei, se a tal empresa captasse todo o patrocínio aprovado teria direito a uma comissão de R$ 311.580. Mas, pelo acordo firmado, passou a ter o direito a uma comissão de R$ 1.454.220. Tomamos conhecimento desta carta-acordo numa reunião em meados de dezembro, mas ela se recusou a entregar cópia do documento aos diretores. Depois conseguimos e publicamos no site, assim como todas as outras diversas falcatruas cometidas por ela.
Após tensa discussão, à época o conselho chegou a um acordo com a atual presidente, fixando a captação de recursos patrocinados em no máximo 20%. Mas Rosely nega as acusações de Emediato:
– Na ata está claro que se trata de uma carta de intenção, e não um contrato oficial, que só assinamos em fevereiro. Iríamos apresentar essa proposta à diretoria, é claro – desmente Rosely. – Era apenas uma proposta, porque nossa arrecadação nunca havia ultrapassado R$ 1,2 milhão. Nesse ano, por coincidência, a arrecadação atingiu perto do teto, cerca de R$ 3 milhões, mas o contrato fechado permitia apenas o repasse de 20% à empresa.
A candidata a reeleição conta que estranha o comportamento de Emediato. Na última reunião em que os dois estiveram presentes, o dono da Geração Editorial teria dito a ela que mesmo se sua chapa não ganhasse ele continuaria disposto a participar da gestão de Rosely.
– Não posso levar a sério um sujeito com nível e propostas deste tipo, além de um histórico como o dele. Não preciso entrar detalhes, porque o mercado sabe muito bem da fama dele – comenta Rosely. – Em relação às acusações, só posso dizer que o atual candidato à presidência da chapa dele era o meu diretor executivo, e, se há adulterações ou irregularidades, pode estar certo que ele cuidou dessa contas e também estaria envolvido. Ele trabalhava comigo, mas eu o demiti. E, aliás, não fui a primeira. Ele já havia sido demitido em gestões anteriores.
Para Rosely, que durante a campanha contou com o apoio de mais de 100 livreiros, editores e distribuidores listados em seus site (www.roselypresidente.com.br), a CBL passa por reformulação profissional e intensifica suas relações políticas com o governo:
– Queremos ampliar as ações que fazemos em São Paulo, além de uma completa reinvenção da Bienal do Livro. E, para isso, iremos criar uma comissão dentro da classe editorial e chamaremos convidados.

Há 62 anos entre livreiros
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) é uma entidade sem fins lucrativos criada há 62 anos a partir de uma reunião entre livreiros, editores e distribuidores de publicações com o objetivo comum de difundir a leitura e desenvolver o mercado e o negócio em todo o país.
Entre suas atribuições, constam o estudo e o debate das leis que regulam o direito autoral, negociação de questões tributárias, apresentação e realização de compras, projetos e parcerias com as três esferas de governo, criação de sistemas de comercialização e regulamentação do preço dos livros, além de dar atenção aos pequenos e médios empresários do setor.
Atualmente, a CBL tem como seu evento de calendário mais importante a realização da Bienal do Livro.

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