Roberto Pereira, Jornal do Brasil
09/02/2009
RIO - A coreógrafa carioca Andrea Jabor e sua companhia Arquitetura do Movimento apresentam no Espaço Sesc, até 8 de março, a segunda parte de uma trilogia dedicada à pesquisa do samba. Tarefa nada fácil, tal empreitada demanda qualidades que ainda aparecem turvas em Ao samba – A cruz, o xis e o esplendor, justamente no que se refere ao que é intrínseco do próprio samba. Um dos principais problemas é justamente o ritmo, quase um contra-senso, lembrando-se do tema que aborda. Nada de errado com o ritmo nos pés das ótimas bailarinas que, aliás, sambam muito bem. O problema está no ritmo de sua construção dramatúrgica. Os hiatos são enormes.Alguns deles tornam evidente que os desnecessários 90 minutos do espetáculo abrigam material suficiente para alguns enxutos 40, talvez. Isso é flagrante no texto por demais auto-referente da coreógrafa, logo no início. Tão desarticulado do que viria a seguir, sua pertinência se torna questionável ao instaurar a dúvida de que lugar o samba passará a ser tratado dali em diante.
Além do ritmo, atentar para uma certa elegância que o samba exige seja o próximo desafio de Jabor. Os figurinos, o cenário, mas sobretudo o gesto, que esbarra o tempo todo no caricatural, precisam ser revistos com urgência para se chegar à matéria fina da dança que se quer mostrar.
Tudo está demasiadamente evidenciado, sem que seja hora alguma apenas insinuado. O samba no pé, sabemos nós, tem dessas sutilezas.
Talvez falte a Andrea Jabor e suas seis bailarinas tratar o samba não de forma reiterativa, que chafurda no excesso de reverência estereotipada aos grandes mestres e esquece a construção cênica em si. Tal como acontece com esses mesmos mestres, vale agora encontrar a essência, tanto da cena quanto do próprio tema. Para isso, há que se maturar muita coisa ainda nessa pesquisa.
Apenas uma pergunta, que fica depois de tudo: Andrea Jabor, e o seu samba no pé, onde está mesmo?

Nenhum comentário:
Postar um comentário