quarta-feira, 6 de maio de 2009

Projeto 4º Cineport busca aproximar cineastas dos países de língua portuguesa

Correio Braziliense
Rosualdo Rodrigues
06/05/2009


A cineasta moçambicana Isabel Noronha (na foto com Camilo de Souza) é uma das homenageadas do projeto
Passo significativo está sendo dado no sentido de estreitar laços culturais entre os países herdeiros do idioma lusitano. O ponto de partida é o 4º Cineport — Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa, que vai até domingo, em João Pessoa, Paraíba, e inclui na programação a criação da Rede Cineport de Cooperação Audiovisual. O projeto consiste em unir realizadores desses países em torno de atividades de formação e da discussão de formas de incentivo que não dependam exclusivamente de governos, e também em abrir caminhos para futuras parcerias na produção.

"A atividade cinematográfica, tanto no Brasil quanto em Portugal e nos países africanos, ainda é tutelada pelo Estado, e desde o 1° Cineport notamos que, sempre que recorríamos à esfera governamental, nada caminhava na velocidade que queríamos. A Rede é um recurso de interlocução com os governos para avançarmos nessa pauta e também um meio de estabelecer um relacionamento permanente entre cineastas, ONGs e entidades da sociedade civil interessadas no audiovisual", explica Mônica Botelho, diretora geral do Cineport. Segundo ela, em termos de CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), quando se busca efetivamente políticas comuns para esse tipo de congraçamento, percebe-se que o organismo avançou pouco em tal missão. "Assinam-se protocolos nos gabinetes ministeriais, mas ainda estamos longe do sonho de integração", observa.

Este ano, a Oficina da Rede Cineport de Cooperação Audiovisual reúne 45 jovens realizadores do Brasil, Portugal, Moçambique, Cabo Verde e Angola. Os encontros, que ocorrem diariamente ao longo dos 10 dias de festival — inaugurado no dia 1º —, são divididos entre discussões que vão de questões técnicas a estratégias para financiamento da produção e espaço aberto à exibição de trabalhos dos participantes. "A ideia é promover encontros presenciais a cada ano e manter a relação à distância, para que daí surjam parcerias. O Cineport será o gestor dessa rede", esclarece Marcos Pimentel, coordenador da Mostra Andorinha Digital, que reúne trabalhos nesse formato.

Marcos observa que, por falta de produção, há na programação da mostra uma concentração de filmes e vídeos produzidos em Portugal e no Brasil em detrimento aos demais países. "Moçambique apresenta mais diversidade e volume de produção, principalmente para tevê, sejam curtas, longas de ficção ou documentários. Angola, Cabo Verde e Guiné Bissau têm apenas filmes isolados. Mas percebe-se aí, e também no Timor Leste, pessoas que migraram para Portugal e agora voltam para filmar em seus países", conta Pimentel. Um desnível que os organizadores esperam diminuir à medida que a Rede dê resultados. Amanhã, ela será ativada na prática com o lançamento na internet do Recineport, espaço virtual com midiateca, recursos para fóruns, chats, midiateca e perfis dos participantes, que receberão treinamento para postagem de vídeos, áudio, fotos, textos e outros aplicativos de hipermídia.

Paralelo a isso, Mônica Botelho aponta outros sinais de que a realidade atual pode ser mudada. Um exemplo é 1º DocTV — CPLP (Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Lançado no início de abril, o concurso envolve Ministérios da Cultura e instituições do cinema de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Macau. Será selecionado um projeto de cada estado-membro. Outro sinal é o próximo filme do cineasta angolano Zezeh Gamboa, que terá produção da brasileira Assunção Hernandes e do português Fernando Vendrell e, possivelmente, parte das filmagens em João Pessoa. Ano passado, Gamboa levou o o prêmio do júri para melhor filme estrangeiro no Festival de Sundance, com o filme O herói, co-produção de Angola, França e Portugal, que tem no elenco as brasileiras Maria Ceiça e Neuza Borges. "Esses movimentos são, de certa forma, consequencias do Cineport", afirma.

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