quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

2009Bastidores do circo são o foco da mostra Além do picadeiro

Do Correio Braziliense
Em 08/01/2009

Imagem produzida por Ricardo Padue no tempo em que mergulhou no universo do circo

Um carrinho de algodão-doce levou o fotógrafo Ricardo Padue ao circo. O fotojornalista precisava atender o pedido de foto de uma revista. Foi num circo paulistano que Padue encontrou a imagem. Fez o registro e deixou o picadeiro com o projeto pessoal de realizar ensaio sobre os bastidores do circo.
Além do picadeiro, exposição em cartaz a partir desta quarta na Livraria Cultura, é a primeira mostra de um trabalho iniciado há 10 anos e, se depender do fascínio causado no autor, interminável.
Padue decidiu que, para fotografar o circo, precisava conviver intensamente com seus integrantes. Comeu, dormiu e viveu sob as lonas durante os momentos em que fotografou. Chegou a passar seis meses concentrado em um único lugar.
“Não cheguei a viajar com eles, mas passava bom tempo. Eu estava aberto para o que tivesse que acontecer, não queria interferir em nada da imagem. Pegava o momento deles de concentração antes de entrar em cena. Tinha dias que nem havia espetáculo e eu ia para ter essa intimidade com eles”, conta.
Apenas circos de Brasília e São Paulo aparecem no ensaio, mas Padue planeja para os próximos anos seguir a trilha dos picadeiros nordestinos. O conjunto de 20 imagens tem dois focos. Em algumas, os artistas se preparam para iniciar o espetáculo.
Maquiagem, figurinos e bastidores são o alvo das fotografias em preto-e-branco. Em outras, é o cotidiano da vida nos trailers e debaixo das lonas que atrai a câmera de Padue.
Nenhuma das imagens do ensaio apresenta cenas de espetáculos. “Era a vida das pessoas que moram e trabalham no circo que me interessava. Tive contato com as pessoas que trabalhavam para obter essa imagem inusitada, não posada, mais jornalística e documental.” Algumas vezes também precisou enfrentar o medo dos artistas. Em alguns picadeiros, aceitou o pedido para não registrar os animais. “Achavam que eu queria denunciar”, lembra.
Infância
Nascido em Anápolis há 43 anos, o fotógrafo confessa ser fascinado pelo mundo do circo desde a infância. É a segunda fixação depois da fotografia. Quando concebeu a ideia do ensaio, planejava revelar a mesma magia descoberta durante as sessões assistidas nos tempos de menino. “Na minha infância, eles paravam avenidas para passar. Hoje não existe mais isso. Esse trabalho é uma forma de resgatar esse mundo mágico. O circo, para mim, é o maior espetáculo da Terra.” Padue não dá créditos aos que anunciam o fim do circo debaixo da lona e o retorno aos teatros dos quais há séculos saíram trapezistas e malabaristas. “Não acredito, mas acho que ele está passando por uma transformação.” Também fica indignado quando ouve comentários sobre a mesmice dos espetáculos.
Para os incrédulos, dá a receita: “(As pessoas) têm que acreditar sempre que estão indo pela primeira vez. (Os espetáculos) são iguais porque malabares, palhaços e trapézios são parecidos. Mas, se você for com espírito de criança, de quem está vendo pela primeira vez, vai ver uma coisa inédita. Senão, vai achar um saco.”

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