Estudo realizado pelo instituto de pesquisa da Fundação Getulio Vargas, o FGV Opinião, deixou as batidas e os versos provocativos do funk de lado para analisar o gênero por sua perspectiva socioeconômica.
Publius Vergilius/Folha Imagem
Baile funk em Castelo das Pedras, no Rio de Janeiro; valor médio do ingresso é de R$ 6,75
Realizada entre 2007 e 2008 na região metropolitana do Rio, o berço do "pancadão", a pesquisa ouviu agentes envolvidos na produção do funk, como DJs, MCs (autores e intérpretes de suas faixas) e equipes de som (que promovem os bailes e fornecem seus aparatos), além de camelôs que faturam com as festas. As mais de 400 entrevistas mapearam relações e mostraram que o gênero movimenta cerca de R$ 10 milhões por mês no Estado do Rio.
Hermano Vianna, autor do pioneiro estudo "O Mundo Funk Carioca" (1988), acredita que esse tipo de pesquisa ajuda a esclarecer o funcionamento do gênero e que deveria ser mais frequente também em outras áreas. "Não é um problema só do funk. A produção cultural brasileira tem poucos censos econômicos. A cultura perde, com isso, muitas oportunidades na comparação com outras atividades econômicas mais organizadas", avalia.
"Conseguimos mostrar com essa pesquisa que o funk é um mercado de trabalho e de produção econômica", diz Marcelo Simas, pesquisador da FGV Opinião. O instituto já havia se debruçado sobre outro gênero, o tecnobrega, em pesquisa compilada no livro "Tecnobrega: O Pará Reinventando o Negócio da Música", de Ronaldo Lemos e Oona de Castro. Fenômeno no norte do país --numa realidade econômica bem diferente--, o tecnobrega movimenta R$ 5 milhões por mês em Belém, metade do que o funk movimenta no Rio.
Cadeia produtiva
Os dados mostram que é o MC quem mais fatura na cadeia produtiva do funk, ganhando, em média, R$ 4.140,19 mensais. "Até então, muitos achavam que o dono da equipe de som era o principal articulador dessa cadeia produtiva. Ele de fato arrecada o dinheiro e faz os pagamentos, mas o MC é o agente mais lucrativo", diz a pesquisadora Elizete Ignácio, da FGV.
A partir de 2003, os MCs começaram a se desligar das equipes de som e a conquistar um espaço próprio. De acordo com o estudo, eles fazem uma média de 35,2 apresentações por mês, enquanto DJs se apresentam 29,5 vezes no mesmo período.
Segundo Ignácio, uma das grandes queixas dos entrevistados é quanto à instabilidade do mercado. "As pessoas entram e saem do funk a todo o tempo. O tempo médio de carreira é muito baixo", diz. DJs e equipes de som trabalham, respectivamente, 13 e 15 anos, em média. O tempo médio de carreira do MC é mais curto --nove anos.
Fernando Donasci/Folha Imagem
Bailes funk no Rio movimentam R$ 10 milhões por mês; cachê médio de MCs é de R$ 411
Os DJs, que até a década de 1990 tocavam de costas para o público nos bailes, são apontados como os principais responsáveis pelas inovações musicais e vêm diversificando suas funções --seja apresentando programas de rádio, seja atuando como empresários de MCs, com quem costumam ter uma relação mais harmoniosa do que com as equipes de som.
Segundo o estudo, a informalidade que rege cachês e contratos gera uma série de atritos e acusações entre os agentes. Há dois anos, porém, vêm surgindo associações que pleiteiam a formalização das relações econômicas e de trabalho.
As equipes de som promovem uma média de 878 bailes por mês no Estado do Rio de Janeiro. Para realizar mais de uma festa por noite, dividem-se em subequipes e recorrem a aluguel de equipamentos.
Apesar de faturarem mais nos bailes em clubes (em geral quadras de esportes ou danceterias da cidade) do que naqueles promovidos dentro das chamadas comunidades (praças, quadras e escolas de samba), as equipes não deixam estas últimas de lado. Entre as razões, estão a "gratidão" pelo fato de as comunidades terem abrigado o funk quando ele foi reprimido pelas autoridades do Rio, nos anos 90, e o fato de elas ainda serem plataformas para lançamento de artistas e sucessos.
Editoria de arte/Folha imagem
Os bailes também sustentam uma rede de camelôs --cerca de seis vendedores por festa fora das comunidades. Com o funk, apontado no estudo como sua principal fonte de renda, faturam por mês R$ 957,47.
"Todo esse mercado foi criado nas duas últimas décadas, sem ajuda da indústria cultural estabelecida", diz Vianna. "Não conheço outro exemplo tão claro de virada mercadológica na cultura pop contemporânea. O funk agora tem números claros, que mostram uma atividade econômica importante, que pode assim ser levado a sério pelo poder público."
Publius Vergilius/Folha Imagem
Baile funk em Castelo das Pedras, no Rio de Janeiro; valor médio do ingresso é de R$ 6,75
Realizada entre 2007 e 2008 na região metropolitana do Rio, o berço do "pancadão", a pesquisa ouviu agentes envolvidos na produção do funk, como DJs, MCs (autores e intérpretes de suas faixas) e equipes de som (que promovem os bailes e fornecem seus aparatos), além de camelôs que faturam com as festas. As mais de 400 entrevistas mapearam relações e mostraram que o gênero movimenta cerca de R$ 10 milhões por mês no Estado do Rio.
Hermano Vianna, autor do pioneiro estudo "O Mundo Funk Carioca" (1988), acredita que esse tipo de pesquisa ajuda a esclarecer o funcionamento do gênero e que deveria ser mais frequente também em outras áreas. "Não é um problema só do funk. A produção cultural brasileira tem poucos censos econômicos. A cultura perde, com isso, muitas oportunidades na comparação com outras atividades econômicas mais organizadas", avalia.
"Conseguimos mostrar com essa pesquisa que o funk é um mercado de trabalho e de produção econômica", diz Marcelo Simas, pesquisador da FGV Opinião. O instituto já havia se debruçado sobre outro gênero, o tecnobrega, em pesquisa compilada no livro "Tecnobrega: O Pará Reinventando o Negócio da Música", de Ronaldo Lemos e Oona de Castro. Fenômeno no norte do país --numa realidade econômica bem diferente--, o tecnobrega movimenta R$ 5 milhões por mês em Belém, metade do que o funk movimenta no Rio.
Cadeia produtiva
Os dados mostram que é o MC quem mais fatura na cadeia produtiva do funk, ganhando, em média, R$ 4.140,19 mensais. "Até então, muitos achavam que o dono da equipe de som era o principal articulador dessa cadeia produtiva. Ele de fato arrecada o dinheiro e faz os pagamentos, mas o MC é o agente mais lucrativo", diz a pesquisadora Elizete Ignácio, da FGV.
A partir de 2003, os MCs começaram a se desligar das equipes de som e a conquistar um espaço próprio. De acordo com o estudo, eles fazem uma média de 35,2 apresentações por mês, enquanto DJs se apresentam 29,5 vezes no mesmo período.
Segundo Ignácio, uma das grandes queixas dos entrevistados é quanto à instabilidade do mercado. "As pessoas entram e saem do funk a todo o tempo. O tempo médio de carreira é muito baixo", diz. DJs e equipes de som trabalham, respectivamente, 13 e 15 anos, em média. O tempo médio de carreira do MC é mais curto --nove anos.
Fernando Donasci/Folha Imagem
Bailes funk no Rio movimentam R$ 10 milhões por mês; cachê médio de MCs é de R$ 411
Os DJs, que até a década de 1990 tocavam de costas para o público nos bailes, são apontados como os principais responsáveis pelas inovações musicais e vêm diversificando suas funções --seja apresentando programas de rádio, seja atuando como empresários de MCs, com quem costumam ter uma relação mais harmoniosa do que com as equipes de som.
Segundo o estudo, a informalidade que rege cachês e contratos gera uma série de atritos e acusações entre os agentes. Há dois anos, porém, vêm surgindo associações que pleiteiam a formalização das relações econômicas e de trabalho.
As equipes de som promovem uma média de 878 bailes por mês no Estado do Rio de Janeiro. Para realizar mais de uma festa por noite, dividem-se em subequipes e recorrem a aluguel de equipamentos.
Apesar de faturarem mais nos bailes em clubes (em geral quadras de esportes ou danceterias da cidade) do que naqueles promovidos dentro das chamadas comunidades (praças, quadras e escolas de samba), as equipes não deixam estas últimas de lado. Entre as razões, estão a "gratidão" pelo fato de as comunidades terem abrigado o funk quando ele foi reprimido pelas autoridades do Rio, nos anos 90, e o fato de elas ainda serem plataformas para lançamento de artistas e sucessos.
Editoria de arte/Folha imagem
Os bailes também sustentam uma rede de camelôs --cerca de seis vendedores por festa fora das comunidades. Com o funk, apontado no estudo como sua principal fonte de renda, faturam por mês R$ 957,47.
"Todo esse mercado foi criado nas duas últimas décadas, sem ajuda da indústria cultural estabelecida", diz Vianna. "Não conheço outro exemplo tão claro de virada mercadológica na cultura pop contemporânea. O funk agora tem números claros, que mostram uma atividade econômica importante, que pode assim ser levado a sério pelo poder público."
Nenhum comentário:
Postar um comentário