FÁBIO GUIBU da Agência Folha, em Garanhuns e Caetés (PE)
Nunca na história deste país a vida de um retirante nordestino eleito duas vezes presidente da República havia sido retratada em filme. Isso começou a mudar esta semana, no Agreste de Pernambuco, com o início das filmagens de "Lula, o Filho do Brasil", longa de Fábio Barreto com estreia comercial prevista para janeiro de 2010, ano de sucessão presidencial.
Classificado pelo diretor como "um drama épico sobre uma certa família Silva", o filme, orçado em R$ 12 milhões, retrata a vida do presidente e de seus familiares, do nascimento de Lula, em 1945, até a morte da mãe, Eurídice Ferreira de Melo, a dona Lindu, em 1980.
Baseado no livro homônimo da historiadora Denise Paraná, publicado em 1996, "Lula, o Filho do Brasil" tem como protagonista o pouco conhecido ator de teatro Rui Ricardo Diaz.
Diaz será um dos cinco "Lulas" que aparecerão no filme. Além dele, interpretarão o mesmo papel um bebê de três meses, um menino de dois anos, outro de sete e um adolescente de 13. Precavida, a produção providenciou ainda mais dois reservas, para o bebê e para o menino de dois anos.
As primeiras gravações foram feitas em Caetés (a 250 km de Recife, PE), ex-distrito de Garanhuns, terra natal do presidente. As cenas iniciais mostram dona Lindu, interpretada pela global Glória Pires, dando à luz o futuro presidente.
Luiz Inácio cresce em meio à seca, e a saga dos Silva no Agreste só termina quando Lula, 7, embarca com a mãe e seis irmãos em um pau-de-arara, com destino a São Paulo. A cena da saída, gravada sob o sol forte do meio-dia, foi repetida 12 vezes ontem até ser aprovada.
O filme vai mostrar ainda a trajetória operária de Lula e também seus dois casamentos, com Lurdes e Marisa Letícia. Para o papel da primeira mulher foi escolhida a filha de Glória, Cléo Pires. Já a atual primeira-dama do país será interpretada pela atriz Juliana Baroni, ex-paquita Catuxa Jujuba.
A previsão é que as gravações terminem no dia 21 de março. De setembro a dezembro, a obra participará de festivais internacionais e, em janeiro, entrará no circuito comercial. Segundo Fábio Barreto, há possibilidade de lançamento simultâneo na América do Sul.
Para ele, a coincidência entre a estreia e o ano eleitoral não passa mesmo disso: uma coincidência. "Vamos mostrar uma história humana, não um filme chapa-branca, feito para puxar o saco do presidente", disse.
"Quem espera um filme político pode esquecer, ele é completamente separado da efervescência eleitoral." Ainda segundo Barreto, a produção não utilizou nem um centavo de incentivos ou recursos públicos.
Diaz, o Lula adulto do filme, afirma que nem chegou a pensar numa eventual influência do filme na eleição ou vice-versa. "A gente fala de um Lula apartidário, quase apolítico", disse. "Ele não tem partido, não é de esquerda nem é comunista. Está num movimento e surge como liderança", afirmou.
O ator, que não diz em quem votou para presidente, engordou oito quilos para o papel e, com a ajuda de uma fonoaudióloga, treina para reproduzir a voz rouca de Lula. "Tenho que ser discreto, não posso ser caricato", disse. "O tom precisa ser sugerido, porque isso é uma característica forte dele, mas não pode ser estereotipado."
Eleitora de adversários do presidente nos dois últimos pleitos, Glória Pires confessa que não sabia "nada" sobre a vida de Lula antes do seu engajamento político e que, com o filme, aprendeu a admirá-lo.
Para ela, a obra pode, sim, ajudar a consolidar a popularidade do presidente. "Mas não vejo nenhum problema nisso, porque ele já é um fenômeno de popularidade", declarou.
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