Correio Braziliense
16/04/2009
Daniela Paiva
Jornalista, Cláudio Ferreira busca na crônica olhar e ouvido atentos
A chegada ocorreu num dia de programação discreta, distante da extroversão imediata de sexta, sábado e domingo. Aos poucos, a literatura, a música e o teatro conquistaram espaço cativo na rotina do brasiliense com o Terça Crônica, sedutor e descontraído encontro semanal. Esta noite, a agenda preenche lacuna em 2009 com um herdeiro direto do projeto, que manteve a caderneta movimentada no ano passado. O Quinta Crônica abre a temporada inspirado nas canções de Vinicius de Moraes e nos textos do jornalista Cláudio Ferreira, às 19h30, no Auditório do Centro de Formação da Câmara dos Deputados (Cefor). "
A resposta do público foi muito boa. É estimulante trabalhar um projeto de alto teor cultural num dia que quase não tem nada em Brasília", comemora Jones Schneider, ator, diretor e idealizador do projeto. Ele promete a volta da Terça Crônica em breve para o Plano Piloto e com outros filhotes, além do Quinta Crônica mensal. A ideia é espalhar-se pelos palcos de Taguatinga e Ceilândia, onde planeja edições itinerantes e sempre gratuitas, com recursos já aprovados pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
A hereditariedade do projeto, que teve edição no ano passado, revela-se, inclusive, nas entranhas. "Nenhum cronista sabe os textos que vou ler nem o que vai responder", conta Schneider. Outra característica é a parceria com Alex Souza. O músico selecionou causos e interpretará canções de Vinicius de Moraes, como Regra três, Samba da bênção e Eu sei que vou te amar. "Vinicius também era cronista. E suas músicas falam do universo das pessoas, de alegria, cotidiano, felicidade", compara.
A curiosidade pelas linhas que ganharão vida na leitura de Schneider entusiasma Cláudio Ferreira, ex-editor do Correio Braziliense, atualmente na TV Câmara. "Ele quer contar com o efeito surpresa para não racionalizar muito antes", afirma Cláudio, 44 anos. O jornalista nasceu no Rio de Janeiro. Desbravou a capital trazido pela família aos 6.
No Correio, trabalhou durante 12 anos. Os textos que passaram pela seleção de Schneider foram publicados na seção Crônica da Cidade. Nela, Cláudio vestiu-se de uma espécie de repórter oculto, com a escuta em estado de alerta. "Procurei saber o que as pessoas pensam e comentam, sem entrevistá-las nem expô-las", conta. "Brasília é uma cidade onde os anônimos não são muito ouvidos." A faceta de cronista mostrou-se um desafio. "Jamais havia pensado em fazer isso. Nunca escrevi nada literário e nem se tenho pendor para isso."
Na visão do jornalista-cronista, Schneider encontrou poesia. "Ele tem um olhar romântico, saudoso e delicado a respeito de Brasília", opina o mestre de cerimônias, responsável pela leitura do texto e condutor do bate-papo. "Ele veio do Rio mas sente como se tivesse nascido aqui." Cláudio, que também escreveu crônicas para o DFTV, da Globo, e o Portal da Universidade de Brasília (UnB), relembra as espiadas pelo cotidiano da cidade.
"Quando estudava na UnB, queria fazer um curta-metragem sobre o Gran Circular e não deu certo. Refiz a viagem e cronometrei o trecho inteiro. Vi que, anos depois, o tempo do percurso era o mesmo", se diverte. A postura de observador na Feira do Guará, tão frequente no cotidiano do brasiliense, mas cujos detalhes passam despercebidos pela rapidez do dia a dia, também está guardada com carinho na memória. "Li placas e descobri nomes engraçados, procurei as comidinhas típicas. Farinha e doce de leite são minhas paixões que estão lá", derrete-se.
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