sexta-feira, 6 de março de 2009

'Watchmen' chega aos cinemas como adaptação de HQ

O Estadão
06/03/2009

Com muitos personagens, roteiro de David Hayter (X-Men 2) e Alex Tse quer dar conta do passado de todos eles

REUTERS
Divulgação

SÃO PAULO - Depois de muita disputa entre estúdios norte-americanos para determinar a quem pertenciam os direitos da adaptação da famosa série de HQ "Watchmen", o filme chega aos cinemas de todo o mundo nesta sexta-feira. Fiel ao espírito da obra original, o longa, dirigido por Zack Snider ("300"), discute a relação entre humanos e super-herois, num curso histórico alternativo (Nixon ainda é presidente dos Estados Unidos no ano de 1985), e suas consequências.
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Trailer de 'Watchmen'

Mais do que isso, a obra publicada na década de 1980, escrita por Alan Moore (que não aceita que adaptação nenhuma leve seu nome nos créditos) e desenhada por Dave Gibbons, questiona o lado humano dos personagens com superpoderes: até onde a humanidade necessita deles? Como "Batman - O Cavaleiro das Trevas" já apontou no ano passado, heróis podem entrar numa crise de identidade bem séria. Combater o mal pode não ser tão compensador como imaginam os meros mortais.
Em sua essência, ao menos no começo,"Watchmen" é um suspense - o clássico "quem é o assassino?". No prólogo, o Comediante (Jeffrey Dean Morgan, de "PS - Eu te amo"), um ex-heroi decadente, é assassinado. A cena acaba com seu botton sorridente sendo manchado por uma gota de sangue - uma imagem emblemática da série, que será retomada algumas vezes.
O crime dá início à jornada do misterioso Rorschach (Jackie Earle Haley, de "Pecados Íntimos") para reencontrar seus amigos que também foram super-herois no passado. Coruja II (Patrick Wilson, de "Ao Entardecer") é um bonachão acomodado; Adrian Veidt, o Ozymandias (Matthew Goode, de "Match Point - Ponto Final"), conhecido como "o sujeito mais inteligente do mundo", ganha a vida licenciando produtos baseados em seus amigos; e Lauri Júpiter, a Espectra II (Malin Akerman, de "Antes só do que malcasado") vive com o Dr. Manhattan e tem problemas com a mãe, Sally Júpiter (Carla Gugino, de "As Duas Faces da Lei").
Porém, o personagem mais interessante de toda essa saga é o físico Jon Osterman, também conhecido como Dr. Manhattan (Billy Crudup, de "Missão Impossível 3"). Quando trabalhava em experiências para o governo, acabou atingido por uma forte carga nuclear. Tornou-se azul - e praticamente indestrutível - além de adquirir poderes como ver o seu passado e futuro.
Com essa gama de personagens, o roteiro assinado por David Hayter ("X-Men 2) e Alex Tse tenta dar conta do passado de todos eles, o que acaba sendo um problema no desenvolvimento da ação. Aliás, quando a ação se interrompe a fim de contar a formação de algum personagem é como se uma nota de rodapé fosse introduzida no meio do filme prejudicando todo o andamento da história.
Paradoxalmente, a melhor passagem, que conta a história do Dr. Manhattan, acaba sendo também a mais complicada por ser inserida bem no meio do filme. Quando descobrimos o seu passado e o seu dilema, tudo começa a fazer sentido. Mesmo sendo visualmente bonita, a sequência é verborrágica, carregada de termos científicos e de filosofia New Age, típica dos anos de 1980, e trilha sonora de Philip Glass. Depois desse longo flashback, Snider não consegue mais retomar o ritmo.
Certamente, os fãs da série em quadrinhos irão se deleitar vendo praticamente tudo o que foi concebido no papel transferido para a tela, inclusive diálogos literais. Mas a alegria de alguns, pode ser o pesadelo de outros. Tanta reverência não abre espaço para que os personagens e a trama respirem sozinhos.
O ar retrô de "Watchmen" (a ação se passa em meados dos anos 1980 mas com forte influência da década de 1960) é reforçado pela trilha sonora, que inclui Bob Dylan, Simon & Garfunkel, Leonard Cohen e Billie Holiday. Aqui, Nixon concorre ao quarto mandato e uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética é iminente.
"Watchmen" possui um acabamento visual atraente e, ao contrário de outras adaptações reverentes, como "Sin City", não cansa. Por sua vez, o questionamento central do filme, pode fazer uma ponte com os tempos atuais de incertezas e guerras pelo mundo. No fim, descobrimos que o preço pela paz pode ser mais caro do que se imagina.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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