Lívia Gomes
Do Correiobraziliense.com.br
17/03/2009
Maggio reúne em livro perfis de donas de bordéis de Salvador e do interior baiano

No título escolhido para o que o autor define como um “recorte humano” dessa realidade, uma palavra que as desagrada e que Maggio usou como um contraponto entre todo o juízo de valor que “cafetina” suscita e as histórias por ele ouvidas. Tem a ex-hippie que dirigia seu negócio com a ajuda da família, a figura materna exemplar (“Nunca fui uma prostituta. Dou o meu exemplo”), a cafetina por casamento, a mulher do facão com passado glorioso no ramo que escolheu, uma que saiu da prostituição para o casamento e voltou como dona de bar por uma traição, a que alcançou o auge e desistiu do bordel com apenas 21 anos, a vendedora de roupas que herdou a casa e as meninas de uma amiga e a que fez história no interior.
De 17 mulheres procuradas, apenas aquelas oito aceitaram falar abertamente sobre suas vidas. Entre as que se esquivaram, casos extremos como a de Dona Gracinha, uma "vovó do tipo Dona Benta” — brinca Sérgio –, que, depois de marcar uma conversa com ele, fugiu de todas as maneiras e, ao encontrá-lo na rua, correu e pediu ajuda aos passantes (“Ele me bate!”), deixando o repórter numa saia-justa. Mas a paciência para conseguir a confiança das outras parece ter valido a pena. “Todas elas se emocionaram muito. Tive a sensação de que ninguém nunca quis escutá-las”, conta. “Dentro de uma situação de lidar com um universo que flerta com várias marginalidades, elas me mostraram uma fresta da alma, o que me fez perder o preconceito. É um mundo extremamente perigoso e as histórias iluminam aquelas pessoas nesse sentido”, destaca.
Se as casas de prostituição naquele formato estão em decadência, a atividade, acredita Maggio, vai continuar sob outras formas e não adianta “jogar o assunto para debaixo do tapete”. Ao concluir a pesquisa com as cafetinas da Bahia, Sérgio preferiu não publicar o trabalho para preservá-las. Em 2004, já em Brasília, o jornalista fez uma nova pesquisa sobre o tema. As muitas histórias acabaram por ser canalizadas para ficção e o resultado é o texto teatral Cabaré das Donzelas Inocentes, incluído no livro e que, contemplado com o edital do CCBB, será encenado em novembro deste ano com direção de Murilo Grossi e William Ferreira. No palco, as atrizes Bidô Galvão, Catarina Accioly, Adriana Lodi e Miriam Virna viverão quatro mulheres que reúnem as experiências de solidão e esgotamento das muitas que Sérgio ouviu.
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