terça-feira, 17 de março de 2009

Jornalista Sérgio Maggio reúne em livro histórias de oito cafetinas

Lívia Gomes
Do Correiobraziliense.com.br
17/03/2009

Maggio reúne em livro perfis de donas de bordéis de Salvador e do interior baiano
Lembranças e histórias que poderiam ter saído de um romance de Jorge Amado: Gina, Minininha, Saiana, Juci, Andréa, Nini, Fátima e Cabeluda. Oito perfis de mulheres, rebatizadas aqui para se protegerem da ilegalidade de seu trabalho ou escondidas sob apelidos com os quais ganharam fama. Preferem ser chamadas de "donas de casa", mas são ou foram o que o mundo chama de cafetinas e suas trajetórias se encontraram no trabalho que o jornalista Sérgio Maggio lança nesta terça-feira, a partir das 19h, na Livraria Dom Quixote, no Centro Cultural Banco do Brasil. O livro-reportagem Conversas de Cafetinas reúne depoimentos colhidos durante 1997 nas ladeiras da Salvador e em cidadezinhas do interior baiano. Sem deixar de encarar a prostituição como um problema social, o olhar do repórter encontra pessoas de carne, osso e passado por trás de quem organiza e explora o sexo (das outras) como mercadoria.

No título escolhido para o que o autor define como um “recorte humano” dessa realidade, uma palavra que as desagrada e que Maggio usou como um contraponto entre todo o juízo de valor que “cafetina” suscita e as histórias por ele ouvidas. Tem a ex-hippie que dirigia seu negócio com a ajuda da família, a figura materna exemplar (“Nunca fui uma prostituta. Dou o meu exemplo”), a cafetina por casamento, a mulher do facão com passado glorioso no ramo que escolheu, uma que saiu da prostituição para o casamento e voltou como dona de bar por uma traição, a que alcançou o auge e desistiu do bordel com apenas 21 anos, a vendedora de roupas que herdou a casa e as meninas de uma amiga e a que fez história no interior.

De 17 mulheres procuradas, apenas aquelas oito aceitaram falar abertamente sobre suas vidas. Entre as que se esquivaram, casos extremos como a de Dona Gracinha, uma "vovó do tipo Dona Benta” — brinca Sérgio –, que, depois de marcar uma conversa com ele, fugiu de todas as maneiras e, ao encontrá-lo na rua, correu e pediu ajuda aos passantes (“Ele me bate!”), deixando o repórter numa saia-justa. Mas a paciência para conseguir a confiança das outras parece ter valido a pena. “Todas elas se emocionaram muito. Tive a sensação de que ninguém nunca quis escutá-las”, conta. “Dentro de uma situação de lidar com um universo que flerta com várias marginalidades, elas me mostraram uma fresta da alma, o que me fez perder o preconceito. É um mundo extremamente perigoso e as histórias iluminam aquelas pessoas nesse sentido”, destaca.

Se as casas de prostituição naquele formato estão em decadência, a atividade, acredita Maggio, vai continuar sob outras formas e não adianta “jogar o assunto para debaixo do tapete”. Ao concluir a pesquisa com as cafetinas da Bahia, Sérgio preferiu não publicar o trabalho para preservá-las. Em 2004, já em Brasília, o jornalista fez uma nova pesquisa sobre o tema. As muitas histórias acabaram por ser canalizadas para ficção e o resultado é o texto teatral Cabaré das Donzelas Inocentes, incluído no livro e que, contemplado com o edital do CCBB, será encenado em novembro deste ano com direção de Murilo Grossi e William Ferreira. No palco, as atrizes Bidô Galvão, Catarina Accioly, Adriana Lodi e Miriam Virna viverão quatro mulheres que reúnem as experiências de solidão e esgotamento das muitas que Sérgio ouviu.

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