sexta-feira, 31 de julho de 2009

Fagner lança novo disco com parceiros distintos e mostra maturidade

Correio Braziliense (DF)
Rosualdo Rodrigues
Publicação: 30/07/2009

Novo disco de Fagner, produzido pelo cantor e por Clemente Magalhães. Lançamento Som Livre, 10 faixas.
Fagner completa 60 anos em outubro, mas a data não tem para ele nenhum peso. Contar o tempo está longe de ser uma de suas atuais preocupações. "Só lamento perder qualquer chance de jogar na Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Mas não tem problema. Não vou à Copa, mas vou ao copo", brinca o cantor e compositor cearense, notório fã de futebol e assíduo praticante de uma pelada. Agora, falando sério: "Trabalho muito, aproveito a vida, jogo meu futebol, meu tênis...Não tenho tempo para me preocupar com a idade", afirma, revelando uma serenidade que reflete em seu novo disco, Uma canção no rádio.

"No anterior, Fortaleza, eu estava passando por muitos problemas, então não foi um disco pra cima. Fazia uns seis anos que não eu me empolgava tanto com um trabalho", admite ele, que dirigiu e, junto com Clemente Magalhães, coproduziu o álbum. "O que torna esse disco especial são os novos compositores que gravei, as novas parcerias, o encontro com parceiros com quem venho trabalhando já há algum tempo", enumera.

Quando fala de novos compositores, Fagner se refere especialmente a Oliveira do Ceará, de quem gravou Regra de amor, Amor infinito e Martelo. Oliveira, que tem cerca de 50 anos, é servente de universidade em Fortaleza. "Ele já vinha atrás de me conhecer, mas não acontecia. Então um amigo fez uma festa e o levou para cantar. Cada música! E nunca tinha sido gravado", lembra. Outro novato é Domer, como é chamado o maranhense Domervil, de quem Fagner gravou Certeza, em 2001. Desta vez, o cantor escolheu a romântica Sonetos.

"Sempre gostei de descobrir músicas novas. É bom diversificar, gravar um pouco de tudo, porque o disco não fica somente em cima do que você pensa", afirma. A lógica não vale só para o intérprete. O Fagner compositor também foi em busca de ideias que se aproximassem das suas. Nessa busca, encontrou Chico César e daí surgiu Farinha comer, composta a distância. "Mandei a música para o Chico em um dia e no outro ele já me devolveu com uma letra maravilhosa", conta Fagner, impressionado com a rapidez do colega paraibano.

Quem sabe não seja o início de uma parceria tão produtiva quanto têm sido as que o cearense mantém com Zeca Baleiro e Fausto Nilo, também presentes no disco (com Uma canção no rádio e A voz do silêncio, respectivamente)? "Sempre que a gente começa, a intenção é continuar. E o primeiro pontapé nos motiva. Eu e Chico nos encontramos pouco, mas já temos outra música nova", diz.

Já Gabriel, o Pensador, além de fazer participação especial no disco, entrou como parceiro, mas não de Fagner, e sim de Oliveira do Ceará e Adamor, autores de Martelo, sobre a qual ele criou um rap. A ideia foi do dono do disco, que achou que tinha tudo a ver com o rapper a denúncia social presente na letra. Fez a ponte. "Eles são parceiros e nem se conhecem, observa Fagner, que, embora feliz com o resultado, admite que Uma canção no rádio não está rodando agora em seu CD player. "Eu me envolvo demais. Depois que acaba, abandono. É muito difícil ouvir de novo", conta. Mesmo assim, sabe enumerar, em sua extensa discografia, os trabalhos pelos quais tem predileção: "Gosto do primeiro, Manera Fru Fru, do Orós, Ave Noturna, Traduzir-se... O que gravei com Luiz Gonzaga foi marcante, o que fiz com o Zeca (Baleiro)...".


Crítica// ***
Estilo maturado


Para quem surgiu no cenário musical com um perfil de "alternativo" ou de voz dissonante, Fagner cometeu pecado grave diante da crítica quando tomou caminho mais popular e romântico. Mas o tempo passado dá a entender que a mudança de rumo do artista tem mais a ver com vontade pessoal do que com concessão. Afinal, não se pode reclamar de Fagner coerência e determinação em seguir adiante. E Uma canção no rádio, embora não seja "o" disco, é um sinal da maturidade das escolhas do cantor e compositor, uma síntese bastante harmônica do que ele vem fazendo ao longo da carreira. Em (apenas) 10 boas composições, combina romantismo (Muito amor, Regra do amor, Uma canção no rádio), nordestinidade (Me dá seu coração, Flor do mamulengo) e olhar crítico sobre a realidade (Martelo, Farinha comer) com sobriedade e um apuro de produção que deixa transparecer o exigente olho do dono em todas as etapas de sua feitura. (RR)

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