quinta-feira, 6 de agosto de 2009

MILONGAS BRASILIENSES

Correio Braziliense
01/08/2009

Quer dançar tango? Brasília já tem um baile por semana do mais famoso ritmo portenho

Cibelle Colmanetti
O abraço é cerrado. A música começa e logo pernas e pés se entrelaçam quase incompreensivelmente em giros, caminhadas, cortes, ganchos. O tango arregimenta apaixonados não apenas em Buenos Aires, Argentina. Em Brasília, o mais famoso ritmo portenho ganha espaço, ou melhor, espaços. Já existem na cidade quatro bailes por mês, um por semana, para quem deseja se aventurar ou se aprimorar no baile.

A cena tangueira na capital ainda está bastante circunscrita às academias de dança de salão. Nem por isso é antidemocrática. A confraria recebe adeptos das mais variadas idades, que começam como alunos e se tornam autênticos milongueiros. No último mês, até um restaurante abriu o salão para dançarinos e ouvintes da música, do tradicional Gardel aos expoentes da fusão com o eletrônico, como os grupos Gothan Project e Bajofondo.

As milongas, assim chamados os bailes onde tocam-se o tango (mais lento) e a milonga propriamente dita (mais rápida), ainda atraem os corajosos — em geral, professores e pupilos aplicados. Os tímidos, no entanto, podem encontrar na pista um palco discreto para dançar com desconhecidos e uma oportunidade para admirar o desenho dos passos e as imponentes coreografias ou improvisações dos mais experientes. “Um bom milongueiro tem horas e horas de observação”, atesta Cléa de Paula, organizadora do baile mais antigo de Brasília, realizado desde 2006. Antes conhecida como baile da Cléa, a milonga A media luz acontece sempre no último domingo do mês, na Academia de Dança Marcelo Amorim, na 710 Norte.

Por quase um ano e meio, A media luz reinou absoluta em terras brasilienses. Um encontro mensal, no entanto, era pouco. Surgiria, em princípios de 2008, a milonga Entre sueños, promovida no segundo domingo de cada mês por Oscar Ricarte, no Núcleo de Dança do Cresça, na 703/903 Sul. Atraído pelo tango há uma década, quando a mãe começou a ter lições, o professor de 24 anos garante que o público tem crescido. “O interesse das pessoas vem aumentando, elas veem que se trata de uma dança diferente das outras, mais clássica. Muitas descobrem isso no salão, que é onde se dança o verdadeiro tango”, comenta. Na última Entre sueños, em 12 de julho, cerca de 50 pessoas prestigiaram a festa, enchendo a sala espelhada da academia. Ao contrário das pistas de outros ritmos, não há tanta discrepância entre o número de dançarinas e o de dançarinos. Na maioria das vezes, haverá cavalheiros dispostos a tirar as damas para bailar.

Etiqueta
Exige-se etiqueta no bailado. Quatro a cinco músicas tocam em sequência — trata-se da tanda. O mesmo casal deve dançar todas. A interrupção se dá com uma canção de outro gênero, como forró ou samba, que pode ser completa ou não. Nesse intervalo batizado de cortina, novos casais se formam e a ronda se reorganiza. No salão, as duplas têm de seguir o fluxo (eis a ronda), movimentando-se em sentido anti-horário.

Os grandes incentivadores da multiplicação das milongas são os próprios produtores. “Tentamos sempre ir aos bailes uns dos outros, afinal é só um por semana. Também há alguns alunos que frequentam todos os eventos e, assim, vão aprendendo mais”, explica Flávia Valente, carioca que trocou os tablados do Rio pelos de Brasília há um ano e meio. A professora, graduada em licenciatura em dança, trabalha com tango há 14 anos. Ela e João Corrêa, sócios na Academia Estilo e Dança, na 712 Norte, organizam o Bailongo da Estilo no terceiro domingo do mês. O evento conta com um detalhe argentiníssimo — vendem-se empanadas (uma espécie de pastel assado). No panfleto da academia sobre o ritmo, um recado a quem teme se arriscar: “Vergonha é algo que deve ficar em casa”.

Boemia
Só faltava mesmo um autêntico argentino para completar o circuito. Ele não só apareceu, como decidiu mexer com a rotina da dança na capital. Guilhermo Abraham optou pelos ares candangos no ano passado, formando parceria com Ana Szerman. Os dois inauguraram em julho a Noites de tango, a única milonga aos sábados (sempre o primeiro do mês, ou seja, hoje) e fora de uma academia, no restaurante Cassimiro (302 Norte). “O tango faz parte de uma cultura boêmia que combina com o sábado. Por isso, não definimos horário para encerrar o baile: a dança acabará quando o último milongueiro deixar o salão”, diz Abraham. Ele e Ana também dão aulas e lançaram um projeto, patrocinado pelo GDF, de ensinar o ritmo em escolas públicas. Em agosto, o Tango para todos passará por colégios do Paranoá e do Lago Sul.

Agora, com o calendário em dia, basta arrumar a produção para as noites de gala. “Faço questão de chamar para dançar aquelas colegas que aparecem no baile pela primeira vez. Essa integração cria um clima fraterno entre os milongueiros da cidade, pois o que se preza é a dança”, explica o uruguaio Júlio Ayala, 48 anos, 30 de Brasil, 16 de Brasília. Aliás, Júlio considera injusta a fama exclusivamente argentina do tango. “Tinha tango na minha mamadeira”, brinca o empresário, que mesmo com música e passos na veia, faz aulas há cinco anos. Ele, a mulher e até a filha, de 10 anos, são assíduos nas milongas.

Outra adepta da dança há pelo menos seis anos é a psicóloga Sueli Amorim, que, em um vestido branco no último domingo, deslizava abraçada ao cavalheiro nas tantas músicas que dançou. Ela explica: “No tango, a música tem sua importância, mas o abraço é fundamental. É ele que modula a sintonia do par”. Então, que o abraço seja seguro, porém terno, e que siga el baile, como diriam os portenhos.

» Programe-se

- De 16 a 18 de outubro, será realizado o 1º Festival de Tango de Brasília. Haverá aulas com professores de dança do Brasil e do exterior, além de três bailes, o último dos quais no Clube do Exército. Nos três eventos, estão programadas apresentações dos mestres.
As inscrições estão abertas para todos os níveis e os 50 primeiros pacotes vendidos custarão R$ 150 cada um. Informações: www.festivaldetangobsb.com.br


» Homenagem

O evento começou no salão de festas do prédio onde Cléa morava e migrou para uma academia ao ganhar popularidade. A milonga sempre contou com a coprodução de Giovani Fabiano de Almeida, um dos primeiros disseminadores da cultura tangueira em Brasília. Giovani morreu neste ano e foi homenageado no Dia do Tango (8 de junho).

» Para saber mais Da Argentina para o mundo

O tango nasceu em fins do século 19 como um amálgama de batuques dos negros e de ritmos dos imigrantes e dos crioulos descendentes dos primeiros colonizadores. As teorias são muitas, algumas controversas, mas estudiosos tendem a concordar que as palavras tango e milonga têm origem africana — a primeira seria usada tanto para designar o espaço dentro de casa onde se podia dançar, as próprias danças africanas e até o tocar de um instrumento. A etimologia da segunda pode significar tanto baderna e confusão como um feitiço de amor, o milongo. Enfim, em castelhano, o termo milonga começou a indicar os locais onde negros e mestiços se reuniam para dançar.

O tango surgiria em meio a comunidades mais pobres, nos subúrbios perto do porto de Buenos Aires, na Argentina. Inicialmente, em público, homens dançavam com homens — contam alguns estudiosos que, à época, considerava-se indecente um homem e uma mulher dançarem juntos. Segundo outros leitores do assunto, porém, isso se devia ao fato de a população feminina ser pequena em uma região com intensa imigração de trabalhadores. Assim, era nos bordéis que se concentrava o baile de mulheres com homens — nessas casas, aliás, os passos e a música foram descobertos pelas classes mais prósperas.

No início do século 20, a música e a dança chegaram a Paris, na França, causando tremendo sucesso. De 1913 em diante, o tango tomou o mundo, encantado com o ritmo vindo da então rica e glamurosa Argentina, forte parceira de uma Inglaterra ainda imponente. Essa popularidade mudou as letras da música, antes mais lascivas. Nascia assim, já na transição dos anos 20 aos 30, o tango-canção, mais romântico, embora conservando um quê de lamento. Os cantores ganharam fama. O principal deles é quase um clichê, de tão conhecido: Carlos Gardel, morto aos 45 anos em desastre de avião em 1935.

Mas o auge ainda estava por vir — os anos de ouro do tango (com sua riqueza de variedades da dança) são os das décadas de 1940 e 1950. Destacam-se, nesse período, duas orquestras: a de Carlos Di Sarli, conhecido por um estilo mais lento e elegante, e a de Osvaldo Pugliese, sinônimo de inovação e habilidade em atrair os pares para o salão.


» Onde dançar tango

Primeiro sábado do mês (hoje)
Milonga Noites de tango
Local: Restaurante Cassimiro, na 302 Norte, Bloco D, lojas 3 a 53, Subsolo
Horário: das 21h até o último tangueiro
Entrada: R$ 10
Informações:
9272-2825 (Ana)

Segundo domingo do mês
Milonga Entre sueños
Local: Núcleo de Dança do Cresça, na 703/903 Sul (entrada lateral)
Horário: das 19h às 11h
Entrada: R$ 10
Informações:
8489-4872 (Oscar)

Terceiro domingo do mês
Bailongo da Estilo
Local: Academia Estilo e Dança, na W3 Norte, Quadra 712, Bloco C, Sobreloja 32
Horário: das 19h às 23h
Entrada: R$ 10 (até
20h, R$ 7)
Informações: 3273-2023

Último domingo do mês
Milonga A media luz
(Baile da Cléa)
Local: Companhia de Dança Marcelo Amorim (CDMA), na 710 Norte, Bloco A, sobreloja
Horário: das 19h às 23h
Entrada: R$ 10
Informações: 3274-9261


» Onde aprender tango

Academia Estilo e Dança
W3 Norte, Quadra 712, Bloco C, Sobreloja 32
Informações: 3273-2023
www.estiloedanca.com.br

Companhia de Dança Marcelo Amorim
710 Norte, Bloco A, Sobreloja
Informações: 3274-9261

Casa da Dança
707 Norte, Bloco B, Casa 44
Informações: 3349-9908
Dança de Salão Paulo Pivetta
Escola de Parque da 303/304 Norte
Informações: 3245-1797

Centro de Danca Alex Gomes
W3 Norte, Entrequadra 708/709, Bloco F, Loja 1/3, Asa Norte
Informações: 3272-7072

Estúdio de Dança Emmanuel Sócrates
506 Norte, Bloco D, Sala 220, Asa Norte
Informações: 3273-0633

Núcleo de Dança do Cresça
Colégio Cresça, na 703/903 Sul, ao lado da UniDF, Asa Sul
Informações: 8489-4872

Estúdio de Danca By Cia
Entrequadra 712/912 Sul, no Clube dos Previdenciários, Asa Sul
Informações: 3345-6924

Academia de Dança Arthur Murray
QI 15 Bloco G, comércio local, sobreloja, Lago Sul
Informações: 3248-6814

Dança Comigo
CLSW 302, Bloco B, Subsolo, Edifício Parque Center, Sudoeste
Informações: 3344-9636

Escola de Dança Corpos em Par
CNB 4, Lote 10, 2º andar, Taguatinga Norte
Informações: 3563-1260

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Comentário:
Autor: Juliana Dias
Existe também a Academia Dance & Cia - By Roberto Dias Localizada a SGAS Qd. 609/610 dentro do Clube ASA/CD. O professor Roberto Dias foi o segundo colocado no campeonato de Tango de Brasília. Mais informações no site www.dancecia.com.br

Um comentário:

  1. Puxa!!
    Adorei saber que se pode dançar milonga em Brasília!!!

    Sou apaxonada por tango e não sabia de nada desta nossa terra provinciana..

    grata

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